Os belos da tarde...

Entre uma tarefa e outra estava eu a vasculhar gavetas e arrumar armarios quando ouço um burburinho do lado de fora de casa. Mais precisamente do outro lado da rua.

Sai para a sacada do quarto e observei um grupo de adolescentes cochichando e rindo de algo.

O grupo não era tão pequeno, uns oito ou dez meninos e meninas entre doze e treze anos, imagino.

Interessante que as meninas pareciam mais maduras fisicamente, as curvas bem delineadas, quase mulheres. Eles, não. Nenhum aparentava ter mais do que seus verdes anos. Braços e pernas magros e longos. Os rostos aquilinos. Vestiam-se todos de calças jeans e camisetas. Provavelmente de um colégio aqui perto.

Adolescentes são vulcões em emoções e instintos. Disfarcei e entrei para dentro antes que um deles notasse minha presença.

Ainda era dia, o sol ia alto no fim de tarde negando-se a ir embora.

Da janela, já dentro do quarto, continuei observando-os. Sentaram-se em dois grupos mistos, separados pela entrada do condomínio de frente a minha casa. Olharam atentos para a rua, provavelmente buscando permissão do silêncio e da solidão para prosseguirem suas atividades. Não me perceberam. Já estava incomodada com essa minha posição voyer, afastei-me da janela.

Logo voltei ao ouvir risos mais altos. Sem controlar a curiosidade aproximei-me novamente para ver o que estava acontecendo.

Percebi que formaram um casal. Uma das meninas e um dos garotinhos. A diferença era enorme entre eles. Não sei quais os criterios usados para a formação dos pequenos parceiros. Mas lá estavam os dois em pé beijando-se e bolinando-se em plena luz do dia guiados pelo instinto e pelos comentarios de seus expectadores que se deliciavam com a cena. Um deles riu e observou como a menina levantava os pés para enlaçar e encaixar-se melhor ao seu jovem parceiro - embora fosse mais alta - e como as mãos do menino a tocavam.

Uma das garotas orgulhosa comentou em voz estridente que um dia antes tinha sido ela a escolhida. Fiquei a pensar que provavelmente para formar um casal com algum deles.

Ao fim do enlace quase sexual em plena tarde de verão, os dois adolescentes se separaram. Os outros levantaram-se da calçada e o grupo então se dividiu entre meninas e meninos.

Em nada pareciam constrangidos. A bela daquela tarde, tirou um chicletes da bolsa, dividiu com uma amiga e saiu com as demais andando rumo à esquina. Interessante que não se voltou para despedir-se em nenhum minuto.

Os garotos por sua vez, conversavam em voz baixa ao redor do pequeno Don Juan, provavelmente querendo mais detalhes de sua experiência. Chutando pedras e rindo como crianças se afastaram logo em seguida.

Eu do meu posto incômodo constatei que estou ficando absoleta, pensei nos pais dos garotos, em preservativos e em anticoncepcionais. Enfim nas consequências do sexo sem os devidos cuidados, o que obviamente poderá ser o próximo passo se nesse ritmo continuarem os belos da tarde... Nada muito romântico.