Preconceito

“Fernando”

Esta voz lhe soou profundamente naquele êxtase de reflexão. Levou algum temo para se dispersar do que estava observando, e só depois é que conseguiu olhar para trás. Não havia ninguém. Talvez fosse apenas sua imaginação, sua cabeça estava cansada, oscilava para os lados. Sentou-se no banco. Esquecera da tinta fresca. Agora era uma preocupação tardia, mas já era bastante inconveniente reclamar de sua burrice. Soletrou alguma palavra, só por diversão, e depois cantou qualquer coisa bem baixinho. Um sussurro. E fim nisso. O celular tocou. Esperou o quarto toque e atendeu. Quem não era? A mãe, a tia, o avô. Sou eu, meu bem. O que você está fazendo? Acabei de acordar e não te encontrei, sabe? Sei. E aí resolvi te ligar para saber onde você está. Ah... E onde você está? Eu? eu estou aqui na praça, dando uma olhada no jardim. Vê se não demora que eu estou com saudade. Tudo bem, daqui a pouco eu já vou. Estática na linha. Guardou o celular no bolso. Olhou a camisa manchada e quis xingar. Xingou. A boca às vezes serve para alguma coisa, isto é, quando um homem não sabe o que quer.

“Fernando”

Levantou-se de uma vez. Estava ficando louco, não era possível! Duas vezes alguém lhe chama, mas quem seria? Meditou um pouco, O que havia esquecido aquela manhã? Não se lembrava. Mas parecia algo importante. Resolveu voltar para casa. “Fernando”. Mas que diabo! Quem era esse Fernando? Correu um pouco e lá veio “Fernando”. Estacou. Beliscou-se. Risadas. Ele é que era Fernando. E qual era o problema mesmo? Ah, sim. Alguém o estava lhe chamando e ele não sabia quem. Desesperou-se e meteu a cabeça num poste, Desmaiou, Acordou com uma baita dor de cabeça e foi embora. Chegou em casa. Nossa, o que aconteceu? está com a testa roxa! É que eu fui assaltado... Assaltado? mas como? Ah, ninguém têm mais respeito pelo próximo. Eu te avisei para não ficar andando por essa periferia; lá só tem bandido! Está bem, é melhor esquecermos isso... Não! vou ligar pra polícia e é agora. Não precisa... Precisa sim! e o que foi que eles roubaram? Foi aquele relógio que eu comprei no camelô. Mas ele está em cima da mesa, você o esqueceu pela manhã, eu acho. Não, mas foi o outro. Que outro?

Jhunnyor
Enviado por Jhunnyor em 02/02/2012
Código do texto: T3476302
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