Acidentalmente
O número espantoso de acidentes de trânsito acontecendo diariamente por todo o país, deveria ser um bom motivo para que as autoridades brasileiras se preocupassem com uma política de transportes voltada para os modais ferroviário e aquaviário, levando as pessoas a deixarem mais os seus carros em casa.
Está mais do que comprovado que as penalidades impostas aos motoristas de nada adiantam. Resultado da apuração das velocidades dos veículos, ou da ultrapassagem indevida diante de semáforos “fechados”, através de dispositivos eletrônicos conhecidos como “pardais”, as multas de trânsito acabaram se constituindo num sistema hipócrita de arrecadação financeira. Porque objetivam na verdade o aumento da receita. E não a segurança do cidadão. Sistema justificado pela infeliz idéia de que “o contribuinte só acorda pro problema quando tem que meter a mão no bolso”.
Considero hipócrita esse modelo de apuração porque em nenhum momento as autoridades ou seus representantes interagem com o infrator. Prefere o Estado comodamente encaminhar a ele o documento para a arrecadação. Num relacionamento que se faz de forma nitidamente impessoal. Nisso lembrando um pouco a medicina atual, em que os exames praticamente dizem o que o paciente tem ou sente. Muitas vezes antecipando-se ao diagnóstico do médico.
Os acidentes de trânsito relacionam-se basicamente a duas causas principais: às infrações que cometemos – somos todos motoristas mal educados – e ao excessivo número de veículos automotores em circulação. Que aumenta a cada dia, dado que novos veículos são sempre fabricados e novas habilitações estão sempre sendo concedidas.
Precisaríamos então da inserção em nossa grade curricular, desde quando chegássemos aos bancos escolares, do ensino das leis de trânsito e da disciplina “O que É Ser um Bom Motorista”, respeitada a necessária gradação dos conteúdos programáticos face às diferentes faixas etárias. E também de um sistema de transportes que tivesse os trilhos e a água como modalidades principais.
Não é possível continuarmos a ver em nossas ruas, avenidas e estradas carretas transportando caminhões, vários automóveis juntos, bobinas imensas, lanchas, tratores, tubos de diâmetros expressivos e todo tipo de material pesado, cujo transporte por trem, barco ou navio seria o mais indicado.
No dia em que as autoridades brasileiras se debruçarem sobre essa questão, focalizando esses dois aspectos com maior seriedade, certamente o número de acidentes de trânsito diminuirá. Deixando de ocorrer a transferência do dinheiro do bolso do contribuinte para o bolso do Estado. E daí para mãos nem sempre as mais recomendáveis.