Envelhecimento Precoce. Por quê?

Na noite de natal, minha tia de 51 anos olhou para mim e disse com a voz sumida: minha vida? Já acabou. Agora é cuidar dos netos.
Confesso que parei, segurando no ar a bandeja de frutas que deslizou pelos meus dedos que não acompanharam de imediato o significado daquela informação.
Quando finalmente o sentido da frase ganhou vida no meu cérebro, perguntei de volta o que ela queria dizer com aquilo. E a resposta foi mais devastadora ainda: Acabou. Estou velha. Já fiz tudo o que tinha que fazer.
Este tipo de afirmação me deixa, no mínimo, muito inquieta.
No dia a dia, sou espectadora contumaz de pessoas e situações. Observo vidas, casos, relacionamentos e experiências, mais por curiosidade do que por intenção explícita.
Vejo casais na faixa dos quarenta anos, largados na comodidade da rotina e buscando desesperadamente uma explicação para o tédio lodoso em que vivem.
Observo homens e mulheres de trinta, trinta e cinco anos, entrando em processos de estagnação porque simplesmente o parceiro foi encontrado, o emprego está garantido e o MBA está terminado.
Nesta minha garimpagem de experiências humanas, olho pessoas que “chegaram ao fim da vida” aos cinquenta anos e se contentam em passar dias inteiros em trabalhos monótonos esperando pelo consolo vazio de telenovelas e programas de conteúdo duvidoso.
Todos os dias, vejo seres vagando do trabalho para casa, da casa para o trabalho como em um ritual repetitivo e macabro, apenas à espera do último dia, do último minuto, do último suspiro.
Pais e mães que mal falam com os filhos. Adultos que construíram patrimônios, compraram bens e que hoje “descansam” merecidamente com olhos opacos, vidas vazias e sorrisos amarelos de resignação.
Seres cinzas que andam por caminhos sem volta repetindo amargamente para si mesmos “tudo o que eu tinha que fazer já fiz, agora é aproveitar este restinho de tempo”.
São falas tortuosas de seres humanos infelizes e sem propósito algum a não ser esperar o último dia do fardo em que transformaram a própria vida.
Na minha breve e amadora avaliação, está sempre a mesma pergunta: por quê?
Em que momento da vida tomamos a decisão de que nosso tempo acabou?
Em que exato instante acreditamos que um número, uma fase, uma idade cronológica determinou que temos que parar e começar a contagem regressiva?
Que mecanismo tenebroso existe dentro de cada um de nós que diz que até o momento “x” somos donos do nosso presente e do nosso futuro, mas que, a partir dali, somos meros espectadores do resto das nossas vidas?
É por isto que me inquieto.
Não acredito nesta piada de mau gosto.
Não acredito nesta autocomiseração disfarçada de fragilidade e resignação.
Homens e mulheres que abrem mão de suas vidas, planos e sonhos aos trinta, quarenta e cinquenta anos, são antes de tudo, vencidos pela inércia e pelo próprio medo.
No meu dia a dia, carrego sempre uma frase: a vida é feita de opções. Ninguém muda ninguém. O único responsável pela inutilidade de uma vida, somos nós mesmos.
A morte, começa quando deixamos de acreditar em nossos sonhos e se esparrama quando abrimos mão do que gostamos e do que nos torna um “ser” vivente, pensante e que sente intensamente. E isto, independe da idade.
Ouvir a minha tia dizendo aquela frase na noite de natal, me chocou extremamente e sei que jamais deixarei de ficar surpresa diante de comentários assim. Porque, afinal, não é nada fácil, mesmo que eu seja apenas uma observadora, ver alguém desistindo em tão tenra idade.

Aos amigos que começam a terceira faculdade aos sessenta e cinco anos: minha mais aberta devoção.
Às mulheres que resolveram começar de novo (e felizes) aos quarenta, cinquenta, sessenta anos: saibam que são minhas heroínas.
Aos homens que se encararam, saíram da inércia, começaram um novo hobby e descobriram que ainda são fortes, belos e atraentes: recebam minha admiração.
A todos que descobriram que a vida “só acaba quando acaba” e não quando alguém ou algo diz que acabou: vocês são maravilhosos!
Por fim, para aqueles que compartilham esta idéia tosca, mas profundamente gratificante: um brinde à vida, porque com certeza, nós que acreditamos, temos ainda um longo, longo caminho pela frente.
Ainda dá para aprender a pilotar, pintar, escrever, viajar, estudar, se apaixonar... enfim brincar neste tempo maravilhoso de hoje e no que ainda está por vir.

 
Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 27/01/2012
Reeditado em 30/01/2012
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