Esquinas
Lá vou eu sem saber a diferença entre crônica e prosa poética. Ou, talvez o saiba e me perca entre as letras que insistem em metáforas escoar e em rimas desaguar.
Pouco tenho a relatar, um quadro, um portal separa-me entre meu mundo e o mundo lá fora. Janelas me trazem ângulos diferentes da realidade. Se as fito de frente, vejo coqueiros por trás de minhas grades. Coqueiros a exibirem seus cabelos ao vento, porém, não livres... Enraizados na terra mãe, seguros, mas não livres... Vivos. Esse é o preço de suas vidas, raizes.
Se a mesma realidade, vejo de um andar acima, tudo muda de figura, estão lá casas enfileiradas, telhados espelhando lares, a natureza no esplendor dos pássaros, das flores, das árvores. Pessoas e construçoes, silêncios, cacofonia, amplidão....
Num olhar mais distante, percebo esquinas, encruzilhadas, escolhas. Essas às quais nem sempre é permitido o direito da permuta. Não há trocas, há consequências. Direita ou esquerda, seguir ou retroceder.
No vai e vem dos dias, pessoas por minhas janelas passam, outras ao longe, não vejo, pressinto. E existem aquelas em minhas esquinas, estáticas a me estenderem suas mãos e indicarem-me o caminho...
Afasto-me um pouco mais, mais acima, mosaico tomando corpo.
Paisagem entre meus dedos, teço nos fios das letras meu proprio destino... Ainda que para isso seja preciso fechar algumas janelas e quebrar algumas esquinas...