Charles Charplin - Ou as voltas que a mente dá.
Fui fazer uma cintilografia para descobrir qualquer coisa em minha paratireóide que na verdade eu nem sabia que tinha alguma coisa nela e preferia continuar ignorando. Estava lá eu espichada em uma cama própria, tesa, com as mãos cruzadas em cima do peito e uma chapa branca me achatando. Como nada de melhor eu tinha para fazer, fechei os olhos e dormi. Sonhei que estava deitada em um porão baixo, debaixo de um assoalho e comigo estavam Joca e Pongo. De repente ouvi um CREC e pulei assustada para salvar-me e a eles. Não sei quem ficou mais assustado, se eu ou o técnico que fazia o exame porque dei um pulo e bati com a cabeça na chapa, fazendo outro CREC, já que o primeiro tinha sido ele que fez quando desligou o aparelho. Após as formalidades e os constrangimentos de praxe fui dispensada com a garantia que eu não tinha inutilizado o exame e pude ir embora.
Sempre gostei do estudo sobre os sonhos, tenho até uma pequena bibliografia a respeito, com poucos, mas bons livros. Busco descobrir o que gerou o sonho e nesse caso estava bem óbvio, nem precisei pensar muito. Quando a noite chegou e eu fui dormir refestelada em minha cama, o sonho foi outro: o fogo se alastrava queimando tudo o que eu amava e eu gritei para me acordar. Aliás, esse é um truque que uso quando, durante o sonho sei que estou sonhando – grito até me acordar ou acordar alguém que logo vem em meu socorro. Acordada, fiquei pensando: o que me levou a ter esse pesadelo?
A última coisa que fiz antes de ir dormir foi ler a resenha CHAPLIN, feita pelo Bernard Gontier. Como estou com hóspedes em meu quarto, levei o computador para a cozinha, mas o sono foi tanto que praticamente saí correndo para dormir, largando tudo sobre a mesa. Desabei na cama e acredito que imediatamente comecei a sonhar.
Todas as vezes que eu leio algo sobre Charles Chaplin meu pensamento retroage a uma história vivida há muitos anos atrás. Na maioria das vezes é uma rápida sombra que perpassa a minha lembrança, nem é a lembrança inteira.
Fazia pouco tempo que morávamos em Lavras, menos de três meses, quando uma noite meu pai foi nos acordar e da pequena sacada da sala pudemos ver labaredas de fogo subindo para o céu enquanto a fumaça se espalhava chegando até nós. Ainda não éramos todos que viemos a ser e certamente só os maiores receberam o honroso convite e eu não me lembro o que pensei na época, mas imagino que tenha achado que viver em Lavras seria muito interessante.
O caso é que o caso não parou aí – vinte e dois dias passados e outro incêndio destruiu uma casa bicentenária, onde funcionava o Hotel Jardim. Dessa vez fui in loco ver o incêndio e parece-me que a cidade inteira foi também. Era o segundo incêndio que ocorria na Praça, que carinhosamente chamamos de Jardim e destruindo uma propriedade bem velha. No começo de junho uma terceira propriedade pegou fogo e a cidade passou a viver em um clima de terror. O que seria o quarto incêndio foi debelado e, quando preparava o quinto, o incendiário foi preso, constatando-se que era doido de pedra embora se passasse por um cidadão responsável, chefe de família e trabalhador.
O que interessa mesmo para a elucidação do meu sonho é o terceiro incêndio porque de certa forma acabou tendo a ver com nossa família. Enquanto as chamas ardiam foram até nossa casa para conversarem com meu pai. Havia um homem detido para averiguações e ele dizia ser nosso parente. Era. Primo de minha mãe e casado com a sobrinha de meu pai ele vinha de trem de Arantina e, antes do trem chegar à estação ele viu as chamas subindo e mais que depressa desceu do trem em movimento e rumou em direção ao incêndio. Lá chegando começou a fazer perguntas dizendo-se detetive particular. Se bem me lembro ele era bastante cabeludo, tinha umas atitudes bem diferentes das pessoas comuns e tinha feito um curso de detetive por correspondência. Não podia dar outra, em um minuto a polícia colocou as mãos nele e até ele provar que era um trabalhador honesto que tinha acabado de chegar passou maus momentos.
E agora certamente alguém vai me perguntar o que essa história tem a ver com Charles Chaplin? Quase nada, mas eu não consigo deixar de me lembrar dele quando por algum motivo leio sobre esse gênio do cinema. Por quê? Esse primo de minha mãe, casado com minha prima, sobrinha de meu pai, teve muitos filhos. Meninas lindas que hoje continuam mulheres lindas e dois meninos – ao primeiro deu o nome de Charles, e ao segundo, para deixar bem claro a sua admiração por Carlitos, chamou de Charplin, assim mesmo, com esse s intrometido para combinar com o nome do irmão.
Fui fazer uma cintilografia para descobrir qualquer coisa em minha paratireóide que na verdade eu nem sabia que tinha alguma coisa nela e preferia continuar ignorando. Estava lá eu espichada em uma cama própria, tesa, com as mãos cruzadas em cima do peito e uma chapa branca me achatando. Como nada de melhor eu tinha para fazer, fechei os olhos e dormi. Sonhei que estava deitada em um porão baixo, debaixo de um assoalho e comigo estavam Joca e Pongo. De repente ouvi um CREC e pulei assustada para salvar-me e a eles. Não sei quem ficou mais assustado, se eu ou o técnico que fazia o exame porque dei um pulo e bati com a cabeça na chapa, fazendo outro CREC, já que o primeiro tinha sido ele que fez quando desligou o aparelho. Após as formalidades e os constrangimentos de praxe fui dispensada com a garantia que eu não tinha inutilizado o exame e pude ir embora.
Sempre gostei do estudo sobre os sonhos, tenho até uma pequena bibliografia a respeito, com poucos, mas bons livros. Busco descobrir o que gerou o sonho e nesse caso estava bem óbvio, nem precisei pensar muito. Quando a noite chegou e eu fui dormir refestelada em minha cama, o sonho foi outro: o fogo se alastrava queimando tudo o que eu amava e eu gritei para me acordar. Aliás, esse é um truque que uso quando, durante o sonho sei que estou sonhando – grito até me acordar ou acordar alguém que logo vem em meu socorro. Acordada, fiquei pensando: o que me levou a ter esse pesadelo?
A última coisa que fiz antes de ir dormir foi ler a resenha CHAPLIN, feita pelo Bernard Gontier. Como estou com hóspedes em meu quarto, levei o computador para a cozinha, mas o sono foi tanto que praticamente saí correndo para dormir, largando tudo sobre a mesa. Desabei na cama e acredito que imediatamente comecei a sonhar.
Todas as vezes que eu leio algo sobre Charles Chaplin meu pensamento retroage a uma história vivida há muitos anos atrás. Na maioria das vezes é uma rápida sombra que perpassa a minha lembrança, nem é a lembrança inteira.
Fazia pouco tempo que morávamos em Lavras, menos de três meses, quando uma noite meu pai foi nos acordar e da pequena sacada da sala pudemos ver labaredas de fogo subindo para o céu enquanto a fumaça se espalhava chegando até nós. Ainda não éramos todos que viemos a ser e certamente só os maiores receberam o honroso convite e eu não me lembro o que pensei na época, mas imagino que tenha achado que viver em Lavras seria muito interessante.
O caso é que o caso não parou aí – vinte e dois dias passados e outro incêndio destruiu uma casa bicentenária, onde funcionava o Hotel Jardim. Dessa vez fui in loco ver o incêndio e parece-me que a cidade inteira foi também. Era o segundo incêndio que ocorria na Praça, que carinhosamente chamamos de Jardim e destruindo uma propriedade bem velha. No começo de junho uma terceira propriedade pegou fogo e a cidade passou a viver em um clima de terror. O que seria o quarto incêndio foi debelado e, quando preparava o quinto, o incendiário foi preso, constatando-se que era doido de pedra embora se passasse por um cidadão responsável, chefe de família e trabalhador.
O que interessa mesmo para a elucidação do meu sonho é o terceiro incêndio porque de certa forma acabou tendo a ver com nossa família. Enquanto as chamas ardiam foram até nossa casa para conversarem com meu pai. Havia um homem detido para averiguações e ele dizia ser nosso parente. Era. Primo de minha mãe e casado com a sobrinha de meu pai ele vinha de trem de Arantina e, antes do trem chegar à estação ele viu as chamas subindo e mais que depressa desceu do trem em movimento e rumou em direção ao incêndio. Lá chegando começou a fazer perguntas dizendo-se detetive particular. Se bem me lembro ele era bastante cabeludo, tinha umas atitudes bem diferentes das pessoas comuns e tinha feito um curso de detetive por correspondência. Não podia dar outra, em um minuto a polícia colocou as mãos nele e até ele provar que era um trabalhador honesto que tinha acabado de chegar passou maus momentos.
E agora certamente alguém vai me perguntar o que essa história tem a ver com Charles Chaplin? Quase nada, mas eu não consigo deixar de me lembrar dele quando por algum motivo leio sobre esse gênio do cinema. Por quê? Esse primo de minha mãe, casado com minha prima, sobrinha de meu pai, teve muitos filhos. Meninas lindas que hoje continuam mulheres lindas e dois meninos – ao primeiro deu o nome de Charles, e ao segundo, para deixar bem claro a sua admiração por Carlitos, chamou de Charplin, assim mesmo, com esse s intrometido para combinar com o nome do irmão.