Cleptomaníaco
Rosa Pena
Rosa Pena
Ela pensou que o destino finalmente havia lhe sorrido, quando ele apareceu. Sabia que não existiria o depois. Ciente que o verbo era só no tempo presente. Ela apenas imaginou como uma criança que desenha a vida, feliz da vida, o pai maior que a casa, o elefante amigo da formiga, nuvens azuis sorridentes, um amor para sempre. Sonhos parecidos com as dobraduras que fazemos no papel, um barquinho de jornal que viaja o mundo em um segundo sem sair do lugar, um pedaço de cartão que vira um soldadinho sorridente.
Fantasias de um pequeno curumim.
Rabiscou em versos uma ternura imensa, e navegou suavemente na poesia, com o papo dele. Papo contente. Que nem o de político, pra virar presidente.
Por instantes ela virou um infante que se permite à alegria. Ela esqueceu por completo, que os adultos não sabem conjugar sonhos. Preferem tsunamis devastando oceanos, tablóides cobertos de sangue, nuvens que choram acidez, soldados que morrem de verdade, navios que se afundam com bombas. Ah, o pior mesmo é o que ela não sabia dele. A mania. Clepto.
Rouba pequenas quimeras como quem furta balas de crianças.
Levou inteiro seu drops misto de ilusões. Que nem todos os políticos levam o da gente.
2005