Parece que foi ontem. (EC)


Eles chegaram de mansinho, juntos, porque é assim que eles andam, com seus passinhos bamboleantes. Juntinhos, nenhum vai à frente, nenhum vai atrás. Vistos parados parecem siameses, mas nem idênticos eles são. Um, mais escuro e magrinho; o outro, mais clarinho e gordinho. Cada um pegou um dos lados do jornal não lido e levaram para fora. Algum tempo depois, olhei do alto, da janela do meu quarto para o quintal – lá estava o jornal picado em mil pedaços como se ratos vorazes tivessem passado por ali. Mas eles não são ratos, são os cachorrinhos que me adotaram em junho... Junho? Parece que foi ontem que eu os trouxe para casa e já faz sete meses que, entre trancos e barrancos, vivemos juntos.

Quando Joca e Pongo chegaram a minha vida eles eram bem pequeninos e atrapalhados. Faziam tudo errado, afinal eram dois bebezinhos minúsculos. Por pouco não tive uma depressão pós parto de tanta sujeira que tive que limpar, tanto estrago. Chinelos, pés de qualquer coisa, almofadas, livros, tudo era devorado como se fossem mortos de fome. Um dia, olhando pela janela, tive a impressão que havia nevado – flocos de espuma estavam espalhados pelo quintal. O último colchãozinho destruído por eles tinha fecho – que eles conseguiram abrir. Sair à rua com os dois, impossível. Enroscavam-se em tudo, principalmente em minhas pernas. Com um só, bem pior. Um saía chorando, o que ficava também. Depois que aprenderam a levantar a perninha sair com eles é sempre uma aventura – eles têm que marcar o território em cada poste, em cada porta.

Parece que foi ontem que do nada resolvi trazer dois cachorrinhos para casa. Minha vida mudou e foi para melhor. A vida de todos em minha família mudou. Alguma reação no começo, completamente neutralizada pela doçura deles. Hoje, ao ligarem para cá, a primeira pergunta que fazem geralmente é: e os cachorrinhos? Mas não acredito que foi do nada que tudo isso aconteceu. Desde que ingressei no RL tenho lido histórias sobre o grande amor que as pessoas têm por seus cães. O testemunho desses meus amigos virtuais certamente  foi um fator de grande importância nessa minha crônica. Entre todos, se destaca a Nena Medeiros, a quem dedico essa crônica. Por isso e muito mais: pelos EC que ela coordena com carinho e dedicação.  Parece que foi ontem que tudo começou e eu já tenho quase pronto um pequeno livro inspirado nos temas propostos. Livro que agora vai andar sozinho,  pois as histórias de Penélope, a mulher que vive solitária em um povoado abandonado, vão tomar outro rumo.

Parece que foi ontem que eu passei a escrever para o RL e hoje tenho mais de novecentos textos publicados e mais de duzentas mil leituras (Ou toques, como dizem os mais realistas)
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Parece que foi ontem que nasci e no entanto a vida e o tempo seguem seus rumos de forma inexorável






 
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