O PAPEL DO SÍNDICO

No lugar da aposentadoria o ócio perdeu para uma nobre missão: veio a eleição do condomínio e o seu nome estava lá. Passou a eleição e o seu nome foi pra ata. Da ata, partiram para a cerimônia. Era agora o síndico. Mandato de dois anos. Tarefa das mais árduas. Isenção da taxa mensal por um bom tempo.

Passou a referir-se apenas na terceira pessoa. Pintou uma vaga oficial no jardim dos fundos sob a cobertura do chorão. Ganhou novos amigos. Do mesmo tamanho, repeliu os inimigos. Jamais bate de frente, está amparado pelos ofícios. Elevou o papel de síndico ao cargo dos executivos formais: presidente, governador, prefeito e síndico.

Indicado a sujeito da história, viu-se no espelho com pose de Alexandre, desconfiou que tivesse o talento de Alexandre, resolveu que era descendente de Alexandre. Preocupado com a manutenção perpétua da própria relevância pretendida, conclamou o condomínio a providenciar-lhe uma biografia capaz de ser um dos documentos de sua imortalidade. Através de promessas caramelizadas com o açúcar das esperanças controversas, construiu um método para chantagear a dignidade democrática de praticamente todos os condôminos.

Só não faz o que quer quem não quer: além de cada um estabelecer o próprio regimento de conduta, quem oferecer-lhe à história o nome de Alexandre Magno, receberá apartamento como prêmio. E mais uma vaga. Assim caminha a humanidade: oitavo mandato – e quase duas centenas de meses sem precisar pagar a manutenção do condomínio.

Mudado de hábito, mudado de cabelos, mudado de namorada, renovado da exposição ao tempo, o exercício da função compensou a aposentadoria nos sentidos todos: acabou de chegar num conversível zeradíssimo de brilho! – tocava Magal, saiu uma morena siliconada, haviam passado pelo free shop.

Tercerizou a administração do condomínio, faz-se presente quando necessário, providencia lembranças em todas as festividades, e os prédios estão um brinco: pátios, garagens, corredores e patamares.

De par em par, cada janela abre um sorriso: sempre de fora pra dentro.

Haverá, brevemente, reunião em nome da discussão do nome do condomínio: manter o nome de Condomínio Brasil? – dizem que o Bloco C quer a separação, tornar-se condomínio à parte – mas o que importa é o novo nome do condomínio. Que tal o nome de Condomínio Alexandria? – e dizem por aí que ameaçam reclamar judicialmente sobre as câmeras em todos (sim, todos!) os cantos do condomínio. Por que não Condomínio dos Invictos? – talvez um grande nome!

O papel de síndico é um trabalho sacrificante. Haja crônica para contá-lo.

E haverá.

Haja aposentadoria...

E haja papel.