"Aff"

Foi-se o tempo em que as pessoas eram humildes, sôfregas e simples. Pessoas que andavam cabisbaixa, mas, que ao falar, diziam palavras verdadeiras e fortes. Palavras com peso. Hoje, ao contrário, a juventude cultua o igual, esquece-se a diferença, e todo mundo está virando menino que não quer largar o brinquedo.

As palavras, no entanto, ditas à quatro cantos, estão leves. Quase sumindo. Não são palavras com peso, embora sejam palavras pesadas. O 'aff' é moderno e impotente. É a caricatura do vazio da juventude. O 'aff' tem um teor de desistência, talvez por isso, muita gente esteja tomando tanto Rivotril. É preciso mesmo. Para quem quer morrer, o antídoto, deve-ser o antidepressivo. Me assusta tarja preta e me assusta mais ainda só de pensar, que tal remédio pode 'remediar' a dor colérica d'uma juventude morta por dentro.

Quando se mata e esfola a alma, não adianta se entubar de remédio! Pena que os médicos não sabem disso. Outros, com medo de tomarem os remédios milagrosos, criados pra disfarçar a tristeza que nunca será reconhecida, enviesam pelos mares da moda moderna: internet! É o facebook, que se tornou mais importante que frequentar a Faculdade. É melhor do que ler Saramago. Mais interessante que a aula chata do professor de matemática. Nossos ídolos de hoje são cultuados por suas graças: o Youtube, nos dá o vídeo instantâneo. Em poucos minutos está lá. Lá é a Porta da Esperança que Silvio Santos inaugurou, mas que hoje foi escancarada. Está aberta, qualquer um pode ter o que quiser, e não precisa pagar nada.

Foi-se o tempo em que a mágica era enigmática. Hoje, os enigmas estão caindo. O desejo está se acabando, porque o interesse da juventude, não passa de 'desejo do próprio umbigo'. Só se ver o que está dentro: só se olha pra si! Narciso, maldito, agora está presente em cada personagem, que, diurnalmente, almoça na frente da net, associa-se ao Msn, compartilha suas fotos a todos, troca aqui e troca lá. Troca-se com todo mundo!

É uma pena que Marx está certo. As pessoas se tornaram mercadorias. São trocadas por qualquer um. Qualquer desconhecido vira famoso, e não por humildade, que até seria interessante. A fama do desconhecido hoje é pelo bobo, pela diferença. Talvez por isso existam tantos vídeos inúteis, produzidos por jovens que não tem absolutamente nada a fazer na vida, e que mostram as vulgaridades, perversidades e perversões do humano, que, se maltrata a si mesmo.

A juventude que perde tempo, igual a impotência de próprio sentimento, expressa no 'aff' o esgotamento psicológico, de não ter mais o que fazer. Vivemos a época do reino do prazer. Como existe diversão neste mundo de hoje?!! não podemos burlar a vida, e acreditar que somente o chato e desprazeroso é interessante, pois todos nós precisamos de prazer.

Agora, prazer não é diversão. Há prazer, quando existe sacrifício; quando existe trabalho. Quando existe 'ralação'. Quem rela, e não rala, até pode rezar, mas nunca vai estabelecer uma boa 'relação'. A relação de hoje é pura enrolação. Puro feitiço, perdido, monótono e pobre. O 'aff' é a expressão da menina perdida, do menino bobo, dos jovens “despaternizados” pelo excesso de divórcio.

Oba! Acho que agora, poderemos saber que estão ferrados!

arrab xela
Enviado por arrab xela em 21/01/2012
Reeditado em 21/01/2012
Código do texto: T3453449
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