Inteligência genética
O menino não sabia como iria mostrar aquelas notas vermelhas a seus pais. Ficou imaginando o que fazer, se deveria por a culpa no cachorro ou na professora. O problema era encarar os olhos do pai. Daí viria o castigo. A mãe amenizaria um pouco, mas deixaria tudo mais exigente. A irmã ficaria rindo de sua cara. Bem, isto poderia ser resolvido com um soco, mas aí tudo iria se complicar mais. Pensou em fugir pra Tocantins e viver pescando. Isso! Iria vender peixe na feira de manhã e a tarde iria pescar. E se chovesse? O rio iria transbordar e a correnteza iria ficar forte... Dava pra formar uma dupla sertaneja em Goiás.
Sentou na calçada e amarrou uma fita no tornozelo. Sorte verde. Talvez o presidente proclamasse uma lei que obrigava a nenhum pai ver o boletim do filho. Não, melhor ainda! Era proibido existir boletim; quem se atrevesse a pensar neste papel teria a cabeça decapitada. Riu alto. Asneiras. Nada disso fazia sentido. Caminhou alguns passos e se lembrou de sua mãe ter feito uma coisa com a fatura do cartão de crédito. Parou. Sorriu. Jogou o boletim no esgoto. Tudo bem, a culpa era do cachorro mesmo.