ABSORTO
O arroz queimou.
Nem percebi que estava absorto com meus pensamentos quando coloquei o arroz pra cozinhar.
Era aquele horário viscoso, onde a sensibilidade troca de lugar com o empírico desenrolar do dia.
Pensava de como iria reverter a minha bancarrota. Meus sentidos direcionavam em debandada para o mesmo assunto, Delineava assim um sentido pra ser real o bastante e conseguir concatenar as idéias.
Sai para conversar com o pessoal da famacia que fica ao lado do prédio onde moro. Talvez num relance despercebido arrumaria uma boa idéia para resolver o meu desleixo falimentar.
Sei que gozo de minhas perfeitas faculdades mentais, porém meus neuronios estão raivosos. Digo que não serei molestado pela insignificância, pois viso formalizar e legalizar todos os meus compromissos. Quero sempre estar adido dos assuntos diversos.
Volto para casa e quando chego na porta sinto o cheiro de queimado e lembro-me do arroz. Caramba! nem xinguei aos ventos, só lamentei a perda da panelada de arroz queimado, por estar deverasmente absorto daquela situação indesejada.