EGO SUM
EGO SUM
EGO...EGO...EGO... ah, se eu fosse um monge do Tibet ou um iogue indiano, provavelmente já teria me livrado do meu EGO.
O Ego nos pressiona às paixões: vaidade, orgulho, egoísmo, luxo etc, sobrepõem-se ao SER. Domá-lo é tarefa para pessoas com certo grau de compreensão do cosmos e sua finalidade; dos que percebem porque viajamos pelo infinito sem saber para qual destino, sem saber no que vai dar tudo isso; aos iniciados em alguma religião ou “seita”.
De acordo com a religião que segue, cada grupo acredita que vai para algum lugar já preparado por DEUS. Sou espiritualista holística: os caminhos da cabala, os conceitos budistas, a teosofia de Helena Blavatsky, a maçonaria, a Rosacruz, as doutrinas evangélicas e os evangelhos dizem a mesma coisa. Cada indivíduo se inscreve naquilo que não escapa a sua compreensão, porém é tudo a mesma coisa dentro do cristianismo. Como também em cada época as lendas cristãs foram se desdobrando, aumentando e se descaracterizando a favor do poder.
Mas, chega de tergiversar... e voltemos ao EGO com suas paixões. A literatura é plena de exemplos de pessoas dominadas por ele. A paixão que dominava Iago (em Otelo, de Shakespeare) era a inveja; consegue mesmo envolver Otelo até que este assassine a inocente Desdêmona. A paixão de Odisseu (Odisseia, de Homero) era o orgulho: desafia Possidon e é perseguido por ele até que a intercessão de Zeus o livra, porque a “moira” (destino) dele era voltar a sua terra para reencontrar a fiel Penélope e seu filho Telêmaco. A de Medeia (de Eurípedes) era a vingança. Emma Bovary (Madame Bovary, de Flaubert) desejava glamour, sucesso e visibilidade. Carlos (Os Maias, Eça de Queirós) colecionava amantes, até se envolver com sua própria irmã. Todas essas personagens tiveram de sofrer por conta da força de seus EGOS.
Saramago, em Ensaio sobre a cegueira, destitui suas personagens das paixões criando uma situação inusitada em que elas (as pessoas) nem nome têm. Perdem a identidade enquanto sujeitos e, aos poucos, a possibilidade de sobrevivência torna-se a única paixão.
Acalmar as paixões é esquecer-se, algo que o discurso religioso prega com diferentes enunciados em distintas religiões: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”; “Exercer o serviço desinteressado ao próximo”, “A salvação está na caridade”; e mais uma vez encontramos uma pitada irônica sobre a caridade nas obras de Machado de Assis, mais precisamente em Memórias Póstumas de Brás Cubas, na qual ele salienta o egoísmo, o orgulho, enfim, as paixões, entre elas , ”o serviço interessado”, no dizer comum, “ninguém dá ponto sem nó”. Cada personagem figurativiza uma paixão: Marcela, a vaidade; Virgília, o poder; Brás Cubas, o virtuosismo, enfim, um téorico cheio de idiossincrasias.
Não sei todos os descalabros do meu EGO, só sei que precisa ser domado e, a cada vitória dele, vejo a distância que me separa daquilo que almejo. Até almejar é uma paixão. Os místicos aconselham: esqueça o seu EGO, não haja, não reaja, não deseje nada, que as forças do universo conspirarão ao seu favor.