Como se inicia uma corrente


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A matéria prima para o trabalho de escritor é a vida percebida por qualquer um dos sentidos, inclusive o sexto. A gente vê uma coisa aqui, ouve outra ali, sente outra acolá e assim vamos juntando os ingredientes para a construção de um texto. Um dia desses li em algum lugar do qual já me esqueci que se percebe que uma pessoa está velha quando ela desiste de aprender. Qualquer coisa, nem precisa ser coisa muito importante, saída de grandes enciclopédias. Basta o querer aprender e ficar feliz quando aprende, basta isso para nunca envelhecer. Li também que tudo o que é realmente importante na vida aprendemos no jardim de infância, ou seja, nos primeiros anos de vida (No meu caso, já que nunca freqüentei um jardim de infância). Sempre gostei de aprender, embora realmente nunca tenha gostado muito de estudar, só das atividades paralelas, como ler e escrever. E assim fui aprendendo pela vida afora e sempre sentindo uma alegria profunda quando percebia que um novo conhecimento passava a fazer parte da minha vida, portanto era uma coisa minha, como se ninguém tivesse sabido daquilo que eu sabia antes de mim. Nada decorado, tudo aprendido.

Faz parte de minha base de vida a certeza de que a união faz a força (a história do lenhador que para provar isso aos filhos manda que cada um quebre um pau de lenha, o que é muito fácil; depois ele forma um grande feixe de lenha e pede a cada um que o quebre, o que nenhum deles consegue).A relação entre causa e efeito explorada ao máximo em meu curso de Filosofia já era clara para mim desde os tempos de criança: o filho que ao ver o pai colocar o avô comendo no quintal em uma gamela de madeira,  começa a talhar uma para dar ao pai quando este envelhecer, conhecimento que se ampliou através do ditado – colhemos o que plantamos. E assim meu caráter foi formado, lendo, seguindo exemplos, adquirindo hábitos que se tornaram parte de minha vida, tornando-a melhor. Aprendi coisas corriqueiras e coisas transcendentais. Estudei Filosofia e Logosofia. Ensinei História e aprendi sobre a vida com meus alunos. Viajei e conheci a diversidade, sempre aprendendo alguma coisa aqui e ali. No entanto, apesar do exemplo materno há uma coisa que nunca aprendi: ser organizada. Sou atrapalhada, sempre metendo os pés pelas mãos, perdendo de tudo um pouco, desde chaves a sombrinhas, documentos e isso mais aquilo. É por isso que fiquei muito feliz quando aprendi essa semana como guardar e proteger meus comprovantes de compras com cartões de crédito
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Estava eu em uma loja onde fora levar relógios para trocar bateria e quando os recebi de volta  fui tirar o dinheiro da carteira para pagar. Dela saíram milhões de papeluchos se espalhando pelo balcão. A atendente bem jovenzinha não disse nada, ajudou-me a recolhê-los e abrindo uma gaveta retirou de lá um pequeno envelope branco, abriu o envelope e dentro dele colocou os meus comprovantes. Sorrindo, disse: É assim que guardo os meus. No final do mês somo tudo e sei quanto gastei. E mais, quando eu, super grata já estava de saída ela pegou mais alguns envelopes e disse: Tome, um para cada mês do ano.

Não sei se fez muito sentido escrever essa crônica só para contar essa historinha, mas hoje aprendi outra coisa: como começam as correntes, do mal ou do bem. Estava eu em uma loja esperando a minha vez de pagar as minhas compras quando a pessoa que  estava sendo atendida tirou a carteira da bolsa e dela voaram milhões de papeluchos. Após ajudá-la a recolher e enquanto ela justificava o seu atrapalhamento eu retirei um pequeno envelope branco de minha carteira e lhe disse:Olha como eu guardo os meus,