DIA DE FAXINA

DIA DE FAXINA

Há certos dias na vida de um aposentado, que deveriam ser riscados do mapa. Estou falando do dia da faxina mensal. Primeiramente, junte numa mesma casa a mulher, a sogra, a filha, a enfermeira da sogra, a secretária da casa e a diarista. Essa Torre que não é de Babel, pois todas falam a mesma língua já na hora do café, qual seja, novelas da Globo, receitas da Ana Maria, quem ficou com quem, causos de doenças na família, entre outras pérolas. É um prenúncio do que deve ocorrer durante o longo dia.

Tomo o café e já não posso curtir o jornal, tamanha é a falação. Vez por outra, sou consultado sobre algum assunto, sobre o qual não entendo nada e se arrisco um palpite, normalmente é rejeitado por unanimidade, portanto, é melhor permanecer calado. Penso que a máxima “antes ouvir isso do que ser surdo” está totalmente equivocada, é preferível ser surdo-mudo.

Vou para a sala e logo aparece a patroa, ladeada pelas ajudantes, sou expulso do local em nome da limpeza. Recolho minhas tranqueiras para que não sumam. Vou tomar banho e mau entro no chuveiro lá vem a frase “vê se não demora no banho”. Saio do quarto e sento no quarto do filho para dar uma navegada na rede, mas já há outra invasão, agora para as prévias da faxina, entre as quais se destacam, botar tudo de pernas pro ar.

Sou chamado as pressas para comprar o lustra móveis e o limpa vidros que acabaram. Lá vou eu e invariavelmente vem a bronca no retorno “mas não era dessa marca, você não aprende mesmo”.

A casa está de pernas pro ar e eu de cabeça ao chão.

Enfim, chega um alento, minha neta. Pego-a correndo e saio para passear no Sítio do Pica -Pau; UFA!!. Está chegando a hora do almoço e já estou pensando no calvário.

Chego de volta e parece que estou numa praça de guerra com terreno minado, NÃO PISA AÍ, CUIDADO, ela acabou de limpar a sala agora, não deixa a menina bagunçar nada. Sentamos eu e a neta para iniciar uma leitura e lá vem a ordem, vamos almoçar rápido, senão não dá tempo de acabar a faxina hoje. Todos espremidos vamos “comendo” e os assuntos do café vem a baila. É o segundo capítulo da mesma novela, agora com algumas considerações sobre o serviço da manhã. O banheiro estava com xixi na beira do vaso, os livros estavam amontoados no criado-mudo, o chinelo desaparecido estava embaixo da cama,e todos olham para o réu, estou sendo julgado sem direito a defesa.

Levanto para escovar os dentes e sou mandado para o lavabo, o banheiro está interditado, xixi só sentado. Ah! Ia esquecendo da tampa da privada levantada que é o suprassumo da desfaçatez, dos homens em geral ( comentários do almoço ).

Vou pegar um livro, resolvo não pegá-lo, em nome de minha preservação. Vou para a calçada, tentar encontrar alguém para desabafar, mas não há remédio, logo sou atropelado pela mangueira de lavar.

Desisto e saio pra bater perna. Vou a praça, ao centro e volto ao final da tarde.

Encontro o Conselho de Guerra reunido, falando da beleza que ficou a casa e da vitória sobre a sujeira.. Tento entrar discretamente, a General interrompe a reunião, para uma última admoestação “ vê se não vai começar a fazer sujeira já, a casa está um brinco “.

Vou a busca de meus livros e não os encontro,alias encontro um dos que estava lendo, com o marcador de páginas na contracapa, vou ao notebook e está desconectado integralmente, vou pegar o chinelo e não encontro, vou tomar uma cervejinha e está quente ( afinal a geladeira foi limpa, está um brinco!! ).

Contrariado ligo a TV, não funciona, os cabos foram desconectados. (ARRGH!!!)

Em tudo há suas vantagens, a única que enxergo é que é só uma vez por mês, de qualquer forma, vou tentar diplomaticamente convencer a esposa, de que talvez fosse mais interessante fazer a faxina, a cada dois meses. Sei que dificilmente vou conseguir, mas a esperança é a última que morre.

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 12/01/2012
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