Direto da Hipocrilândia parte II: Dona Sociedade e o espelho da verdade.

#Atenção: esta crônica é feita especialmente para aqueles que já leram a crônica anterior, que tem o seguinte título: "Direto da Hipocrilândia: Zé Indivíduo e o espelho da verdade". Portanto, para aqueles que buscam uma visão mais "completa" e ainda não leram a crônica anterior, sugiro que leiam antes. Mas para aqueles que queiram apenas se aventurarem pelo "universo" desta última crônica, sintam-se a vontade para seguir adiante.

Direto da Hipocrilândia parte II: Dona Sociedade e o espelho da verdade.

Após ter apresentado a vocês a “Hipocrilândia” e ter contato a estória do “Zé Indivíduo e o “espelho da verdade”, o Universo do Mad trás a todos a continuação daquela estória. Ou vocês pensaram que o “Anjo da Autocrítica” sairia assim tranqüilo, de asas abanando. Pois é! Ele não saiu. E a continuação dessa estória envolveu outra pessoa, uma senhora na verdade. Envolveu a intrigante, às vezes decepcionante, mas sempre surpreendente “Dona Sociedade”.

Continuamos a partir do momento em que o “Zé Indivíduo” tenta devolver o “espelho da verdade” ao "Anjo da Autocrítica", pois ele aprendera por onde deveria começar. Foi quando o “Anjo” voltou-se pra ele e disse o seguinte:

__ Você realmente pensou que o empréstimo deste “espelho” sairia de graça?

“Zé indivíduo” apenas encolheu os ombros, como se não fizesse a mínima idéia de como pagar, e continuou a ouvir o “Anjo da Autocrítica”. Este por sua vez continuou:

__ Deus, através de mim, apenas lhe emprestou este “espelho”. E o pagamento será que você repasse este objeto à outra pessoa.

Então “Zé Indivíduo” novamente confuso perguntou:

__ Mas para quem eu deveria repassá-lo?

O “Anjo da Autocrítica” com autoridade respondeu:

__ Para a “Dona Sociedade”. Ela é uma senhora idosa e por isso não gosta muito de “espelhos”, porém eu ainda acredito que ela pode fazer bom uso deste objeto.

Assim o “Zé Indivíduo”, ao ver que o suposto empréstimo de tal objeto saíra um pouco caro, respondeu com certo desânimo:

__ Mas seu “Anjo da Autocrítica”, você sabe como a “Dona Sociedade” é! Ela não vai aceitar esse objeto de jeito nenhum. Você sabe que ela ta meio idosa e não gosta nenhum pouquinho de espelhos.

Então o “Anjo”, com sua voz angelical que paradoxalmente beirava o assustador, respondeu pela ultima vez:

__ Esse é o preço que terás de pagar. E você sabe que é um preço justo. E mais uma coisa! Saiba que caso a “Dona Sociedade” não consiga se enxergar no “espelho”, assim como você não conseguiu num primeiro momento, eu não estarei aqui para dar qualquer suporte a ela. Eu fui designado apenas para você e mesmo que eu queira não poderei trabalhar para outra pessoa.

Então o “Zé Indivíduo”, completamente desanimado de tal missão, pegou o “espelho” e seguiu seu caminho.

“Dona Sociedade” era uma senhora bastante temperamental e frequentemente conturbada, pré-conceituosa e conservadora. Por vezes também tinha problemas de visão, o que dificultaria ainda mais a tarefa de usar o “espelho”, caso ela realmente desejasse. “Zé Indivíduo” não conseguia entender vários comportamentos dessa senhora e por isso muitas vezes procurava evitá-la. Por exemplo, como poderia esta idosa ser tão religiosa e crente num "além" melhor e ao mesmo tempo ter tanto medo de deixar o que era “terreno”? Este era um dentre vários dos paradoxos da vida da “Dona Sociedade” os quais “Zé Indivíduo” simplesmente não entendia.

No entanto, como devia um favor ao “Anjo da Autocrítica”, ele resolveu encarar esta estranha senhora e pelo menos entregar-lhe o “espelho da verdade”. Se a “Dona Sociedade” iria fazer uso ou não deste “espelho” era problema dela, ele já teria feito sua parte. Porém antes disso, exausto, ele resolveu relaxar um pouco e raciocinar.

Então num belo dia, ao florescer da noite, ele foi e entregou o tal “espelho” à “Dona Sociedade”. E a “Dona Sociedade” foi um pouco resistente, mas acabou aceitando o “espelho”. E mesmo que ela não o usasse, este objeto estaria lá para o dia que ela quisesse usar.

Foi então que na noite seguinte, após o “Zé Indivíduo” ter entregue o “espelho da verdade” para a “Dona Sociedade”, ele teve uma visão. A visão era a seguinte: ele vira que a “Dona Sociedade”, em uma dessas tardes de domingo onde ela afogava suas angustias em frente a um destes programas de TV ideologicamente anestesiadores, pegou o “espelho” e resolveu olhar para ele. Diante do “espelho” esta senhora viu a própria face. E diante da imagem projetada ela se assustou com o que acabara de ver, afinal, fazia um tempão que ela não se olhava diante do “espelho”. Os anos não tinham sido nada amigáveis com ela. Ela viu, cravada nas rugas de seu rosto, muito ódio, ressentimento e ingratidão. Viu o quanto tinha sido cruel com ela mesma e o quanto isso a tinha prejudicado. Viu também cicatrizes e marcas que por mais que ela fosse imortal, o tempo jamais iria apagar. Viu que os seus valores na verdade não valiam nada e que tudo que valia ela simplesmente não lembrará de valorizar. E esta foi a triste visão da “Dona Sociedade”, que acima de tudo, envergonhada, viu que já era TARDE para mudar.”

Foi quando “Zé Indivíduo” acordou repentinamente do sonho e ao olhar para o seu lado observou que o “espelho da verdade” ainda encontrava-se em sua posse. Atordoado percebe que tudo, desde a entrega do “espelho” para a “Dona Sociedade” até a suposta visão, não passará de um sonho. Ainda angustiado, porém com um olhar esperançoso, ele decide enfim entregar o tal “espelho” para aquela senhora. Contudo, agora ele não agiria da forma como tinha acontecido em seu sonho, agora ele acrescentaria apenas um único diálogo no momento da entrega. “Zé Indivíduo” diria o seguinte:

__ “Dona Sociedade”, caso você algum dia se aventure a olhar para este “espelho”, independentemente do que a senhora veja, saiba de apenas uma coisa. NUNCA É TARDE PARA MUDAR!

A continuação desta estória provavelmente o Universo do Mad não terá. O que a “Dona Sociedade” resolveu fazer com o espelho, se ela o usou ou não, ou se ela simplesmente o abandonou, infelizmente este desfecho não será postado. Tampouco este “Universo” sabe o que aconteceu com o “Zé Indivíduo”. Mas o que o Universo do Mad tem certeza é que “espelhos” são difíceis de aceitar, e por mais bonita que seja a “moldura”, o reflexo simplesmente não irá se alterar.

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MAD (Vulgo Rafael M.B.)