Um Mundo tão pequeno
A Beatriz Cruz, excelente cronista deste site, conta-nos em crônica do dia sete de janeiro que, circulando em São Paulo viu que o mundo era pequeno. Eu também. Embora tenha gostado de ler a crônica dela, senti-me um pouquinho frustrada porque de certa forma foi como se ela tivesse descoberto algo que só eu sabia. Se me dão uma limão tento fazer uma limonada e assim sendo estou aqui utilizando a crônica dela para dar início a minha já que eu não estava sabendo era como começar.
No começo de novembro fomos a São Paulo, Dudu e eu. Já escrevi sobre o assunto na crônica de ontem, Gratidão. Dudu é meu irmão caçula e já viajamos juntos algumas vezes, sempre da mesma forma: ele decide, pergunta se quero ir, organiza tudo e vamos. Dessa vez o objetivo era conseguir um visto de viagem para os Estados Unidos. Temos uma irmã casada que mora lá. Temos uma sobrinha muito amada que faz doutorado em Cornell. Ele está planejando ir, eu não, mas é sempre bom estar preparada, pois mais vale prevenir do que remediar.
Dessa vez não foi diferente. Ele marcou a data, escolheu o hotel e embora me consultasse sobre tudo, na verdade a decisão é sempre dele. Meu papel é de ouvi-lo para ajudá-lo a pensar. Levou um tempinho para decidir como ir e voltar: de ônibus, ir de ônibus e pedir que nos buscassem de carro, ir de carro e voltar de ônibus, ir e voltar de carro. Foi aí que as coincidências começaram: como nosso motorista usual já estivesse todo agendado sugeriu um amigo seu e aí o problema resolveu-se por conta própria: o motorista mora em Lavras, sua mulher em São Paulo e ele estava doido por uma oportunidade de passar uns dias com ela. Ofereceu-se para nos levar e trazer de volta: enquanto estivéssemos lá o carro ficaria na garagem do hotel e ele com sua família.
Ficamos em um hotel para turista, rede internacional, mas bem simples. A escolha foi determinada pela proximidade do Consulado norte americano e pelo preço porque Dudu é meticuloso. Fazer conta e economizar é com ele mesmo, mas sem abrir mão da qualidade de vida. O apartamento mínimo tornava impossível ficar lá dentro e então saímos para procurar o que fazer. Descobrimos que o Teatro Vivo era perto e resolvemos ir até lá comprar ingressos para qualquer peça que estivesse passando – não estava passando peça nenhuma embora a bilheteria estivesse aberta para a estréia na semana seguinte. As duas atendentes gentilíssimas nos ajudaram a procurar outro espetáculo adequado. Dudu é deficiente visual e um monólogo viria a calhar. Não conseguimos e acabamos optando por Cabaré, já que ele gosta muito de música. Em um papo mais informal acabamos descobrindo que uma das atendentes era de família conhecida de Lavras, passara o último Carnaval lá e conhecia a Padaria Rocha.
Encantados com o ocorrido fomos dar uma volta por um dos Shoppings vizinhos e quando saímos ouvimos alguém chamando: Dudu, Dudu. Olhamos curiosos e assustados e chegou até nós em um passo apressado o porteiro do Shopping. Era de Lavras, sabia quem éramos. Não o conhecíamos, mas meu irmão conhecia o irmão dele. Conversamos um pouco, ele contando casos da Padaria e seguimos nosso caminho.
Tarde seguinte fomos rumo ao Teatro Procópio Ferreira para ver Cabaré. Chegamos cedo e fomos dar uma volta pelas adjacências em busca de um lugar para lanchar. Voltávamos para o Teatro quando os encontramos, Isabel e seu filho, de Pouso Alegre. A primeira vez que viajamos para a Europa, Dudu e eu, conhecemos Isabel e seu marido Pedro Paulo e nos tornamos amigos inseparáveis. Nunca mais os tínhamos visto. Isabel nos viu de longe, primeiro e logo fez um sinal pedindo silêncio. Queria que Dudu a reconhecesse pela voz, mas fiquei tão empolgada que não esperei que ela falasse. Fui logo exclamando, olha quem está aqui, Dudu!. Foi uma noite memorável, tanto pelo musical que assistimos como pela pizza que fomos comer os quatro juntos e o papo agradabilíssimo.
No dia seguinte, hora marcada fomos até ao Consulado, mas isso já seria um outro assunto. Depois fomos ao Mercado comer pastel de bacalhau e pão com mortadela. Saindo do banheiro cruzo com alguém entrando – uma senhora, de Lavras, que todos os dias passa em frente a Padaria e nos cumprimentamos.
Achei que a cota de coincidências se encerrava aí, mas logo ao sairmos de São Paulo tivemos que parar em uma lanchonete de beira de estrada e resolvi tomar um café com pão de queijo. Um pão de queijo tão quente que saia fumaça de dentro dele. Um desconhecido se aproximou de mim e disse: Este pão de queijo está bom? Respondi que apesar de quente, estava. Ele sorriu e enquanto se afastava disse:Mas duvido que seja tão bom quanto o da Padaria Rocha.
A Beatriz Cruz, excelente cronista deste site, conta-nos em crônica do dia sete de janeiro que, circulando em São Paulo viu que o mundo era pequeno. Eu também. Embora tenha gostado de ler a crônica dela, senti-me um pouquinho frustrada porque de certa forma foi como se ela tivesse descoberto algo que só eu sabia. Se me dão uma limão tento fazer uma limonada e assim sendo estou aqui utilizando a crônica dela para dar início a minha já que eu não estava sabendo era como começar.
No começo de novembro fomos a São Paulo, Dudu e eu. Já escrevi sobre o assunto na crônica de ontem, Gratidão. Dudu é meu irmão caçula e já viajamos juntos algumas vezes, sempre da mesma forma: ele decide, pergunta se quero ir, organiza tudo e vamos. Dessa vez o objetivo era conseguir um visto de viagem para os Estados Unidos. Temos uma irmã casada que mora lá. Temos uma sobrinha muito amada que faz doutorado em Cornell. Ele está planejando ir, eu não, mas é sempre bom estar preparada, pois mais vale prevenir do que remediar.
Dessa vez não foi diferente. Ele marcou a data, escolheu o hotel e embora me consultasse sobre tudo, na verdade a decisão é sempre dele. Meu papel é de ouvi-lo para ajudá-lo a pensar. Levou um tempinho para decidir como ir e voltar: de ônibus, ir de ônibus e pedir que nos buscassem de carro, ir de carro e voltar de ônibus, ir e voltar de carro. Foi aí que as coincidências começaram: como nosso motorista usual já estivesse todo agendado sugeriu um amigo seu e aí o problema resolveu-se por conta própria: o motorista mora em Lavras, sua mulher em São Paulo e ele estava doido por uma oportunidade de passar uns dias com ela. Ofereceu-se para nos levar e trazer de volta: enquanto estivéssemos lá o carro ficaria na garagem do hotel e ele com sua família.
Ficamos em um hotel para turista, rede internacional, mas bem simples. A escolha foi determinada pela proximidade do Consulado norte americano e pelo preço porque Dudu é meticuloso. Fazer conta e economizar é com ele mesmo, mas sem abrir mão da qualidade de vida. O apartamento mínimo tornava impossível ficar lá dentro e então saímos para procurar o que fazer. Descobrimos que o Teatro Vivo era perto e resolvemos ir até lá comprar ingressos para qualquer peça que estivesse passando – não estava passando peça nenhuma embora a bilheteria estivesse aberta para a estréia na semana seguinte. As duas atendentes gentilíssimas nos ajudaram a procurar outro espetáculo adequado. Dudu é deficiente visual e um monólogo viria a calhar. Não conseguimos e acabamos optando por Cabaré, já que ele gosta muito de música. Em um papo mais informal acabamos descobrindo que uma das atendentes era de família conhecida de Lavras, passara o último Carnaval lá e conhecia a Padaria Rocha.
Encantados com o ocorrido fomos dar uma volta por um dos Shoppings vizinhos e quando saímos ouvimos alguém chamando: Dudu, Dudu. Olhamos curiosos e assustados e chegou até nós em um passo apressado o porteiro do Shopping. Era de Lavras, sabia quem éramos. Não o conhecíamos, mas meu irmão conhecia o irmão dele. Conversamos um pouco, ele contando casos da Padaria e seguimos nosso caminho.
Tarde seguinte fomos rumo ao Teatro Procópio Ferreira para ver Cabaré. Chegamos cedo e fomos dar uma volta pelas adjacências em busca de um lugar para lanchar. Voltávamos para o Teatro quando os encontramos, Isabel e seu filho, de Pouso Alegre. A primeira vez que viajamos para a Europa, Dudu e eu, conhecemos Isabel e seu marido Pedro Paulo e nos tornamos amigos inseparáveis. Nunca mais os tínhamos visto. Isabel nos viu de longe, primeiro e logo fez um sinal pedindo silêncio. Queria que Dudu a reconhecesse pela voz, mas fiquei tão empolgada que não esperei que ela falasse. Fui logo exclamando, olha quem está aqui, Dudu!. Foi uma noite memorável, tanto pelo musical que assistimos como pela pizza que fomos comer os quatro juntos e o papo agradabilíssimo.
No dia seguinte, hora marcada fomos até ao Consulado, mas isso já seria um outro assunto. Depois fomos ao Mercado comer pastel de bacalhau e pão com mortadela. Saindo do banheiro cruzo com alguém entrando – uma senhora, de Lavras, que todos os dias passa em frente a Padaria e nos cumprimentamos.
Achei que a cota de coincidências se encerrava aí, mas logo ao sairmos de São Paulo tivemos que parar em uma lanchonete de beira de estrada e resolvi tomar um café com pão de queijo. Um pão de queijo tão quente que saia fumaça de dentro dele. Um desconhecido se aproximou de mim e disse: Este pão de queijo está bom? Respondi que apesar de quente, estava. Ele sorriu e enquanto se afastava disse:Mas duvido que seja tão bom quanto o da Padaria Rocha.