CHARLES, O PEDREIRO HERÓI DE BH
Ele não se chama “Pedro”, como na música social composta por Chico Buarque de Holanda, mas, sim, Charles, que não espera o “trem”, mas “carece de esperar também/para o bem de quem (sem pensar ou pensando bem), mesmo não tendo um “vintém”, se meteu dentro de uma enxurrada em Belo Horizonte e salvou três pessoas, as retirando de dentro de dois carros diferentes, que desciam rua à baixo: um homem, uma mulher e uma criança!
Não pensou na “sorte grande do bilhete federal todo mês”, mas no mês de seu aniversário, disse ter recebido três presentes em forma de três vidas salvas, não “esperando aumento desde o ano passado para o mês que vem”.
Não esperou “o sol/Esperando o trem”. Mas entrou no meio da água lamacenta que arrastava carros, com velocidade de uns 100 km e pegou nos braços Fabrizio, de 4 anos de idade, que só se comunica por sinais de LIBRA; não era a “mulher de Pedro, esperando um filho pra esperar também”, mas apenas o pedreiro Charles surgindo do meio da água carregando a criança nos braços, o Fabrizio.
O pedreiro Charles voltou à avenida que ficou alagada depois do último temporal, no dia 29, em Belo Horizonte, para abraçar as pessoas que salvara. Foi lá que o pedreiro de 29 anos fez o primeiro, o segundo e o terceiro resgate. Desafiando a enchente, o pedreiro Charles salvou um homem que já estava em cima de um carro. Depois, mais à frente, salvou uma mulher, Cláudia, desesperada dentro de outro carro que também era arrastado pela mesma correnteza. Com ela, estava uma criança, Fabrizio, de 4 anos.
“Ela pediu, pelo amor de Deus, que tirasse o menino (a criança) de dentro do carro e o salvasse, e que a deixasse lá”, lembra Charles. “De repente, me deparei com a chuva, o carro enchendo de água. Para todos os lados que eu olhava, a água estava subindo. Ele não ouve. Eu disse para ele através de sinais; eu disse a ele que o anjo, que Deus estava conosco. Iria chegar o momento”, lembra Cláudia.
O pedreiro herói Charles, que não se chama “Pedro”, foi ao encontro deles e os reencontrou no mesmo lugar. Foi o momento de agradecer: um gesto de solidariedade salvou avó e neto. Um abraço sincero de gratidão foi à recompensa para o herói, que não ficou anônimo porque o cinegrafista amador filmou tudo e o entregou à Rede Globo.
“A gente esquece (de) tudo: do perigo, do que pode acontecer. Você quer é tirar quem está lá dentro, salvar a vida”, garante o pedreiro, Charles.
“Diante de tanta violência, de tanta maldade ainda existem pessoas boas para nos ajudar”, destacou Cláudia, avô de Fabrizio.
(Charles), “o pedreiro (não) tá esperando a morte/Ou esperando o dia de voltar pro Norte/(Charles), não sabe, mas talvez no fundo/
Espere alguma coisa mais linda que o mundo”. Se for isso que Charles esperava, já conseguiu! Parabéns, Charles, também meu herói anônimo, mas acredito que o pedreiro Charles, ao contrário do que diz a canção de Chico Buarque de Holanda, “Pedro Pedreiro” não “quer ser pedreiro pobre e nada mais, sem ficar, esperando, esperando, esperando o sol, esperando o trem, esperando um filho pra esperar também”. O filho, pelo menos, ele já conseguiu porque será o herói de Fabrízio por um longo período!