A beija-flor

"Hoje, sentado na cadeira de balanço, que se encontra na varanda, do lado onde o vento sopra mais forte. Eu, como de costume, admirava o cantar dos pássaros ao cair da tarde, me sentia divinamente bem, enxergava o por do sol, de uma privilegiada vista do 22° andar, e ouvia bem de perto o belíssimo e intrigante cantar das aves... Na minha varanda, pendurei um copinho com água e açúcar, e todos os dias, praticamente no mesmo horário uma linda beija-flor, vem beber da minha fonte, e isso se repetia há anos, eu nasci ali naquele apartamento, e desde os meus 11 anos, fornecia a água cristalizada a ela.

Caso eu me atrasa-se, ela batia velozmente suas asinhas em frente a minha varanda esperando eu colocar seu bebedouro amarelo...

E eu me sentia na função de fornece-la todos os dias... Não me sentiria nem um pouco bem se a deixasse sem o seu precioso açúcar, afinal, eu a adaptei, acostumei ela a essa rotina, tornei-a dependente de mim...

Então um dia viajei, passei quatro dias fora, egoistamente nem me dei conta que deixei um pedaço de mim aqui.

Quando percebi do feito, voltei imediatamente pra casa, abri a porta do apartamento estupidamente forte, e a deixei escancarada, corri até a varanda e lá estava ela, linda, perfumada, mas desta vez sem bater as asas... Nem seu pequenino coração batia, estava magra, desnutrida, morta.

Eu a matei, foi um homicídio culposo.

Quando a vi, estagnada, sem nenhum movimento, imediatamente cai em prantos, a peguei na palma da mão e ali fiquei, lembrei de todas as vezes que a via bebendo do meu bebedouro, que era por direito dela... Dias de chuva, sol, ela sempre foi fiel a mim... Como eu pudi ser tão egoísta? Me acalmei, preparei a mesma dose de água com açúcar que fazia pra ela todos os dias e bebi. A coloquei num saco verde, do petshop da esquina, de onde eu lhe trazia um novo bebedouro e desci.

Passei pela portaria de cabeça baixa, seu Miguel reparou e me cumprimentou, respondi e segui, sai naquela chuva rala, fui até o jardim mais belo da cidade, já eram umas 20h, haviam poucas pessoas ali, um ou dois casais de namorados.

Me agachei e delicadamente cavei um buraco entre as rosas mais lindas do jardim, enterrei a beija-flor e voltei pra casa.

Hoje todos os dias passo pelo jardim e observo as lindas rosas, as rego todos os dias, e cuido delas, já que ali encontra-se minha beija-flor, o meu amor.

E só hoje vim compreender aquele antigo ditado: 'Só damos o devido valor, depois que perdemos' Pura verdade."

João Caetano
Enviado por João Caetano em 03/01/2012
Código do texto: T3420127
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