Eu estava lá...
Há tempos venho pensando em finalmente me tornar vegetariana, abandonar a cidade e trancar-me em meio ao mato. Cada vez menos gosto de pessoas. Causam-me urticária.
O mato seria inspirador, vejo-me fabricando mais e mais haikais.
Festas de fim de ano são o que existe de pior entre os rituais humanos. Se são... Em meio à elas, tudo viceja, tudo prolifera. Tudo fica escatológicamente bizarro.
Aquele leitãozinho no meio da mesa rodeado de frutas era o retrato de um defunto sendo velado em meio à bebedeira masculina.
Outro ponto. Por quê homens quando bembem procuram a companhia de outros homens? Não sei, algo meio primitivo cheirando à misoginia ou homossexualismo. Coisa mais degradante. Aquele encher copos, um contar "causos". Tudo regado à farofa e galhofas.
Mulheres? Um exibir saltos, caras e bocas, fedelhos e rebentos.
Um disque me disque um olhar de soslaio, unhas e esmalte. Natal em vermelho, Ano Novo, prata ou branco. Vestidas para matar. Sem metáforas, literalmente passariam umas por cimas das outras em busca de autofirmação.
E eu estava lá. Presa em uma mesa onde pares de olhos fitavam-se e analisavam-se. Pudim de sobremesa.
Fogos lá fora. Correria, fotos. Brindes.
Enjoo, mais um ano. E essa minha letargia a me carregar nas ondas
da covardia. Ansia, engulhos, nojo de mim mesma.