Eu estava lá...

Há tempos venho pensando em finalmente me tornar vegetariana, abandonar a cidade e trancar-me em meio ao mato. Cada vez menos gosto de pessoas. Causam-me urticária.

O mato seria inspirador, vejo-me fabricando mais e mais haikais.

Festas de fim de ano são o que existe de pior entre os rituais humanos. Se são... Em meio à elas, tudo viceja, tudo prolifera. Tudo fica escatológicamente bizarro.

Aquele leitãozinho no meio da mesa rodeado de frutas era o retrato de um defunto sendo velado em meio à bebedeira masculina.

Outro ponto. Por quê homens quando bembem procuram a companhia de outros homens? Não sei, algo meio primitivo cheirando à misoginia ou homossexualismo. Coisa mais degradante. Aquele encher copos, um contar "causos". Tudo regado à farofa e galhofas.

Mulheres? Um exibir saltos, caras e bocas, fedelhos e rebentos.

Um disque me disque um olhar de soslaio, unhas e esmalte. Natal em vermelho, Ano Novo, prata ou branco. Vestidas para matar. Sem metáforas, literalmente passariam umas por cimas das outras em busca de autofirmação.

E eu estava lá. Presa em uma mesa onde pares de olhos fitavam-se e analisavam-se. Pudim de sobremesa.

Fogos lá fora. Correria, fotos. Brindes.

Enjoo, mais um ano. E essa minha letargia a me carregar nas ondas

da covardia. Ansia, engulhos, nojo de mim mesma.

Almma
Enviado por Almma em 01/01/2012
Código do texto: T3416988
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.