A sopa do hospital

Irmão Teodósio Gerkens, já falecido, pertenceu à Congregação da Misericórdia de Maria Auxiliadora, que trabalha em hospitais. Esta história ele contava como verídica. Irmãos do seu tempo a confirmam.

Na catedral de Trier (ou Tréveris), na Alemanha, onde a congregação tem sua casa-mãe, venera-se a sagrada túnica, tida como a veste que Cristo usava quando foi preso, na quinta-feira santa. Em ocasiões de grande solenidade, ela é exposta à visitação pública. Acorre gente de toda a Europa. Trier se torna pequena para receber os devotos. Encontrar vaga em hotéis vira uma aventura. Sem reserva feita com grande antecedência, é inútil tentar.

Numa dessas exposições, veio um homem simples do interior do país. Participou das cerimônias do dia e, depois de jantar, procurou acomodação para o pernoite. Hotéis lotados, indicaram-lhe o hospital dos irmãos: “O hospital é grande, sempre há quartos desocupados. Por uma noite eles dão pouso para quem precisa”.

Aceitou a sugestão e rumou para lá. Morto de cansaço, ficou feliz com o apartamento simples, mas confortável, que lhe deram. Tomou um banho e se enfiou sob as cobertas. Não demorou muito, chegou uma enfermeira, acendeu a luz e o sacudiu: “Olhe a sua sopa, você precisa tomar”. A custo, abriu os olhos: “Obrigado, já jantei, só quero dormir”.

Meia hora depois, apareceu outra: “Aqui está a sopa. O chefe da enfermagem mandou tomar”. Estremunhando e irritado, respondeu: “Não quero sopa. Por favor, me deixe dormir.” E voltou ao sono interrompido.

Mais tarde, acordou-o um enfermeiro: “Tem que tomar a sopa, o médico mandou”. Resmungou um palavrão; o enfermeiro achou melhor se retirar.

Manhã seguinte, escuro ainda, entram dois enfermeiros que o agarram, arrancam-lhe a roupa, introduzem, por via retal, uma mangueira com água morna e lhe aplicam vigorosa lavagem intestinal. Assustado, debate-se no inútil esforço de fugir àquele pesadelo.

Pronto para se retirar, humilhado e triste, vê entrar o enfermeiro-chefe: “Por favor, desculpe. O pessoal do turno da noite confundiu seu quarto com o do paciente da cirurgia de intestino, marcada para hoje”. Atordoado como estava, não chegou a entender o que tinha acontecido.

De volta à sua cidadezinha, visita-o um amigo: “Então, compadre, você viu a sagrada túnica? Estou pensando em ir também. Há muitos peregrinos? Onde comer sem gastar muito? Nos hotéis existe vaga?”.

O homem espera o fim do interrogatório. Então, respirando fundo, com voz pausada, ensina: “Olhe, pode ir sem medo. Trier está em festa e vai ficar assim por vários dias. Muita gente, mas tudo bem organizado. Todos conseguem ver a sagrada túnica. Agora, vaga em hotel é melhor esquecer. Está tudo cheio. Você pode hospedar-se no hospital dos irmãos. Eles dão pouso por uma noite. Mas tem uma coisa: fique esperto quando lhe trouxerem a sopa. Tome logo, mesmo que não esteja com vontade. Se não, de manhã, eles a enfiam em você, à força, pelo outro lado”.

Padre Orivaldo Robles
Enviado por Padre Orivaldo Robles em 29/12/2011
Reeditado em 29/12/2011
Código do texto: T3412176