ERA UMA VEZ UMA HISTÓRIA.
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Por Carlos Sena.


Todas as histórias começam com “era uma vez”. Pelo menos as que eu ouvia na infância e as que li nos tempos de escola primária (faz tempo). Agora, nem tanto. Mas sempre que “era uma vez” inicia uma história moderna acho “digno”. Acho mesmo que nenhuma história infantil perde sua importância se começar com o “era uma vez”... As histórias todas são iguais, o que varia é o contexto. A vida é igual em todos os tempos, mas o diferente não está na vida, mas na forma de vivê-la.

Era uma vez um menino que contava estrelas. Um dia, um seu coleguinha, ao vê-lo olhando pro céu, indagou: o que você vê lá no céu? Indiferente à pergunta, o garoto saiu calado e se escondeu atrás de uma árvore. Sem entender, o coleguinha se foi. De longe, ainda olhou pra trás, mas não viu mais seu amiguinho contador de estrelas. Passados algumas semanas, lá estava o menino, à noitinha, olhando pra cima novamente.  Diana passou e fez a mesma pergunta que Adriano – esse era o nome do primeiro coleguinha, teria feito anteriormente. – Você conta estrelas Jonatas? Silencioso, ele se retraiu por trás da mesma árvore, como que respondendo a Diana em forma arredia de silêncio. Na escola, de repente todos os coleguinhas ficaram sabendo que Jonatas contava estrelas. Alguns deles chegaram até a insinuar que ele não fosse bom do juízo, mas logo foram desmentidos por Diana e Adriano. Cada dia na escola, Jonatas ficava mais calado. Isto foi bem sentido por todos, pois ele era um garoto levado e cheio de molecadas e, diante do seu comportamento arredio, certamente estava acontecendo algo, imaginavam todos.


Certa noite – mais ou menos 18 horas, os coleguinhas de Jonatas decidiram “ver de perto” aquele encontro de estrelas – era assim que todos imaginavam que fosse. Todos os coleguinhas se reuniram no entorno e, de repente, lá vem Jonatas. Andar lépido vai se aproximando do local costumeiro onde tudo indicava se comunicar com as estrelas. Talvez com os astros. Talvez com nem uma coisa nem outra. Postou-se junto de uma pedra grande que lhe servia de proteção e começou a olhar pro céu. De repente ele tira uma luneta da sua bolsa e começa a “vasculhar” o universo. O céu mais parecia o de Brasília, mas era o céu do sertão pernambucano cheio de estrelas. Jonatas nem imaginava que Diana e Adriano comandavam seus coleguinhas para juntos desvendarem aquele mistério. Os amigos que toparam a parada eram um grupo de dez. Posicionados em local estratégico, aos poucos, meio rastejando o chão para não serem percebidos, foram ficando mais perto de Jonatas, ao ponto de verem todos os seus movimentos em direção àquele céu estrelado sob a ribalta da noite escura.  Jonatas olhava pela luneta em várias direções. Por pouco não dava pra perceber que seus colegas estavam por ali no aguardo de descobrir o seu grande segredo. Repentinamente, já meio sem paciência, Jonatas começa a bramir: “mamãe, mamãe, onde estás que não respondes”? Você me disse naquele sonho, que eu viesse a esta pedra que você tinha virado estrela e ia me fazer vê-la. “Eu tenho vindo quase todo dia, mas não consigo te ver”. Nesse instante, uma voz suave, de repente, quebra o silêncio daquela noite estrelada: “filho meu! Eu virei estrela e certamente vou te aparecer no tempo certo. No infinito onde me encontro, zelo por ti, oro por ti e te protejo. Na próxima vez que vieres por aqui, não tragas lunetas. Apenas cante a nossa musica preferida, lembra-se dela? Ave Maria de Schubert, que cantávamos juntos antes de você dormir”. Aquela voz suave foi aos poucos sumindo cedendo lugar a um perfume de jasmim... Os coleguinhas de Jonatas, com os olhos cheios de lágrimas se contiveram até que ele, aos poucos, retornasse pra sua casa aos prantos de felicidade.
No dia seguinte, na sala de aula, os coleguinhas aproveitando que Jonas estava atrasado, contaram tudo que presenciaram a professora. Esta, de pronto, ensaiou a Ave Maria que a mãe de Jonatas solicitou e, quando ele adentrou a sala foi recebido com um coral de vozes entoando, harmonicamente, aquela bela melodia. Emocionado, Jonatas contou a história da morte da sua mãe e todos ficaram com lágrimas nos olhos. Alguns meses depois, Jonas confessou a todos que conversava com sua mãe sempre que a saudade batia o seu coração, mas sempre depois de entoar aquela musica...

Assim, era um ver uma vontade de contar uma história. Esta história eu a escrevi a dez mil metros de altitude, dentro de um avião regressando de São Paulo para Recife. Passei o natal lá, com a minha família e quem quiser que conte outra. Mas não precisa entrar por uma perna de pinto nem sair por uma perna de pato. kkkk