A bolsinha cor de rosa

Era um belo homem, com pouco mais de vinte anos. Nada nele denunciava quaisquer outras opções sexuais, exceto as que, ao nascer, Deus lhe conferiu.
Caminhava com desenvoltura e elegância pelas ruas de um bairro carioca, perto de grande shopping. De vez em quando parava e olhava este ou aquele produto. Via-se, pelas sacolas que carregava, que fazia compras natalinas.
Não foi surpresa vê-lo entrar em uma loja e, atendendo à vendedora atenta ao freguês, entrar. Pediu um produto feminino, como também que a mercadoria fosse embrulhada para presente; Logo após, pagou em dinheiro. O problema foi na hora do troco.
A jovem do caixa solicitou-lhe alguns centavos. O rapaz para ser gentil, abriu sua carteira e,nesse momento, não caíram só moedas. Entre outras coisas, sobressaia, em todos os sentidos, uma bolsinha cor de rosa conservada, com esmero, por ele em bonita embalagem transparente. Vendedora e caixa se entreolharam e, discretamente, riram. Mas, a loja estava, a essa altura, já com várias pessoas, entre homens e mulheres. Além disso, um grupo de três rapazes, cuja musculatura denunciava seu preparo físico
Sem jeito, ele se apressou a pegar tudo o que estava no chão, entre murmúrios e a ironia própria de quem julga os outros por detalhes aleatórios. Ou comentários entrecruzavam-se:
- Que pena!
- É tão bonito! Que desperdício!
No entanto, os três rapazes arquitetavam algo diferente. Só um deles finalizou a compra, enquanto aquele que parecia o líder dizia:
- Vamos...vamos...
O dono da bolsinha cor de rosa limitou-se a guardá-la, dar as moedas solicitadas e sair com uma classe indiscutível.
Duas ruas depois, pelas quais também eu também caminhava, em minha jornada de trabalho, lá estavam os três rapazes, esperando - como se conversassem – a passagem do jovem.
Eram ruas arborizadas, de bonitos prédios, nas quais a maioria das pessoas se isola e só se preocupa consigo mesmo . Não veem – ou não se interessam – pelo que está acontecendo ou acontecerá.
Meu coração se apertou, pela expressão selvagem no rosto dos três que o esperavam. Os instintos humanos, não raro, vão à lama.
Bastou que o homem da bolsinha cor de rosa passasse, para que sobre ele se atirassem, em uma agressão brutal e absurda de profissionais, enquanto o chamavam de tudo. Para eles, aquele rapaz, mesmo que fosse homossexual, não tinha o direito de viver e ainda mais carregar uma bolsinha cor de rosa que lhes feria, tolamente, a virilidade.
O jovem já caído, A policia chegou. O rosto dele era uma pasta de sangue deformada. Nada mais podia falar, mas respirava e estava lúcido. Os outros haviam – como sempre escapado. Alguns transeuntes queriam saber o porquê. Com o braço muito ferido, o rapaz apontou para a carteira. Um dos policiais, a abriu e viu a bolsinha cor de rosa, tirou-a (não deixando de rir antes) da cuidadosa embalagem e abriu-a. Nela, atrás da foto de uma senhora, lia-se:

- A meu querido filho, Renato, a eterna saudade de sua mãe.

Havia uma data, não sei qual era. Só me lembro do olhar atônito do guarda e da ambulância que o levou.
Soube apenas que aquele jovem, fuzileiro naval, viera de outro Estado para passar o Natal no Rio. A mensagem de Jesus, há mais de dois mil anos, continua sendo ignorada.




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Luandro
Enviado por Luandro em 24/12/2011
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