ENTRE NÓS
ENTRE NÓS
Ao fim da tarde de um certo dia subo até o ponto mais alto da cidade para fotografar o local onde está sendo construída uma gigantesca imagem de Nossa Senhora Aparecida. De forma panorâmica, vejo do alto ruas e casas. Numa questão de segundos, giro em 360 graus e fotografo tudo. Tudo...
Surgem então as lembranças. Enxergo uma velha árvore, que a tudo presenciava em silêncio, já cansada pelo tempo, porém ladeada de pequenos brotos. Em frente das casas, reparo na alegria das crianças com seus presentes e brinquedos natalinos. Ecos repercutidos pelos morros de Aparecida me trazem vozes agudas, as quais dizem: “Olha o que eu ganhei!!” E outras são ouvidas cantando: “Gira, gira, gira: girouuu... “
Eles respondem:
- Cuidado, crianças.
Então, em pensamento desço até a rua e decido entrar na casa antiga.
Abro o portão de madeira e à esquerda revejo o estreito corredor de cacos de pisos coloridos, tendo ao final a cozinha com seus azulejos azuis. Olho para a cristaleira em verniz marrom: meus olhos se fixam no brilho das louças brancas com filetes azuis-marinhos, na transparência das taças...
Esperavam o Feliz Mês de Dezembro.
Do outro lado da janela verde, na linha do horizonte construções confusas escondem a bela Basílica Velha. No quintal, o fogão avermelhado, a lenha alimentando o fogo amarelo. O jantar. No céu noturno, os olhos a contemplar e contar estrelas, tentando em vão achar a nave do Dr. Smith, como nós, Perdidos no Espaço. Na sala, a Árvore de Natal de onde as luzes reluzem sobre o retrato em preto e banco. O rádio-vitrola de madeira: a melódica canção em mono, o disco rodando em 78, as espirais girando, girando e girando e... CATAPLUM!!!
O reboar muito forte de um trovão me traz de volta. Com os olhos abertas para a realidade, percebo que a casa antiga continua presente apenas em minhas lembranças.
A chuva começa a cair.
Já é hora de ir para casa, mas qual? uma tão longue e outra tão perto.
*
“Hoje entendo as chuvas de dezembro, e o brilho em alguns olhares na noite de natal Mas que isso fique somente entre nós.”
*
CHEGA A ESPERADA E MÁGICA NOITE DE NATAL. A nova casa está iluminada e cheia de familiares e amigos!
No meu canto, penso em segredo. Sinto que “eles” estão presentes entre nós. Secretamente, capto a resposta: “Não poderíamos deixar de estar!”
- Tim-tim...
FELIZ NATAL!!!