O sexo do trompista



 
                        Gabava-se do seu timbre, que lhe dava uma pureza de voz e uma sonoridade encantadora. Dizia que as mulheres não lhe resistiam porque na verdade  ele agia como uma trompa, que é um instrumento de sopro, da família dos metais.
                        Dizia ele que há amantes que até têm bela voz, mas não sabem  usar as mãos no trato com o corpo da mulher.
                        Ao contrário, outros existem que têm muito boa habilidade manual, mas não possuem uma voz bonita.
                        Ele tocava trompa numa orquestra do seu bairro e, segundo ele, vinha daí saber usar os seus dedos mágicos, além da sucção perfeita, que a trompa exigia. Aliás, é um instrumento dos mais difíceis de se tocar.
                         Segundo pesquisa feita por ele, "a trompa  consiste num tubo metálico de 3,7 metros de comprimento, ligeiramente cônico, com um bocal numa das extremidades e uma campânula (ou pavilhão) na outra, enrolado várias vezes sobre si mesmo como uma mangueira, e munido de três ou quatro chaves, de acordo com o modelo. O trompista aciona as chaves com a mão esquerda, e com a mão direita dentro do pavilhão ajuda a controlar o fluxo de ar dentro do instrumento, e é pela ação conjunta das chaves, da mão direita no interior da campânula, e do sopro (e, às vezes, sucção) do trompista que as notas são produzidas em diferentes alturas e timbres". É um instrumento dificílimo de tocar: o trompista não só tem que ter um ouvido afinadíssimo e saber  solfejar com precisão, como também tem que ter uma coordenação motora perfeita para controlar os músculos da mão direita e a própria respiração.     
                        Sabia tudo de música e era perito em solfejar. Dizia que o ato sexual com a mulher não passava de uma peleja. E que se essa peleja fosse precedida como se faz com a  música, com solfejos, com sopros e sucções, além do manejo virtuoso das mãos, assim como um  bom maestro regendo uma orquestra, as mulheres saíam mais do que satisfeitas, implorando mesmo  pela repetição do número musical.
                        Contava que conheceu um outro músico, tocador de flauta, muito hábil com os cinco dedos. Era quase um profissional da  acupuntura. Tocava nas vértebras da mulher, ora pressionando violentamente, ora apenas de leve,  acariciando, num vai-e-vem do bum-bum até o pescoço e do pescoço até o bum-bum , deixando a mulher num arrepio de morte, tal a delícia que era, mas que,  na verdade,  transformava-se  num arrepio de vida.
                        Mas o trompista dizia que faltava ao flautista o solfejo, a sucção nas áreas montanhosas do corpo da mulher, sem esquecer o arfar controlado da respiração, fruto da grande vivência com a trompa,  aumentando a excitação, bem como o mergulho nos seus lagos plácidos, o que aumentava  espetacularmente o quase gozo, num preparação para o banquete do amor, que terminava, aí, sim, na penetração da mangueira da trompa, que até então enrolada, desenrolava-se para atingir o fundo do lago, chegando-se ao acorde final desta dança e música do sexo realmente bem feito.
                        Dizia ele  que pouquíssimas mulheres no mundo tiveram a ventura de serem tocadas dessa maneira e acreditava  que  só um bom trompista poderia executar essa façanha.
                        E aí, com a sua voz melodiosa, cantava “marra”  arengando um discurso que começava  assim: “ meu amigo,  desde a noite dos tempos, não tenho conhecimento de um sexo feito à minha maneira, com acordes diáfanos e fluentes. Tanto, que após o término desta composição sexual, as mulheres entram num devaneio idílico, suspirando por novas aberturas musicais desse jaez”. 
                        Realmente, parecia que ele conhecia todos os segredos das paragens geográficas do corpo de uma mulher.
                        Com toda essa perícia, provavelmente, ele deveria pensar: “não perco uma”.