Apelo Inusitado
“ Se à vida é uma piada devemos encará-la com humor”. (Dito popular)
“ O humor é a quebra da lógica” (Henry Bergson)
Nós brasileiros, somos humoristas. Não sei se por natureza ou por necessidade. Ganhamos pouco, mas nos divertimos muito. Não importa a cor do humor. Fazemos piadas com todas as desditas: com a elite concentradora de riqueza aos bolsões de pobreza, nas doenças, às mortes pranteadas , honestidade, corrupção, violência, fraternidade, preconceito e Etecétera. Vamos rindo de tudo e de todos. Rotulamos tudo humoristicamente: ladrão de galinha é” pé de chinelo,” ladrão engravatado é “colarinho branco”, menor carente é “pivete”, operário sem qualificação é “oreia seca,” idoso é “pé na cova”, filhinhos da burguesia são “mauricinhos”, “patricinhas” e por aí vai... Um dia de 1997 num ônibus um garoto maltrapilho, em tom apelativo passou sua mensagem sofrida: “ Senhoras e Senhores, boa noite! Não sou ladrão, não tenho pai e minha mãe está doente. Tenho quatro irmãos menores. Estou desempregado e precisamos de comida. Aceito vale transporte, tickets alimentação, ficha de telefone. Que Deus abençoe a todos,” Dito isso saiu coletando pingadas moedinhas. Foi daí que surgiu um rapazote com aparência de classe média, que também deu o seu recado: “ Senhoras e Senhores, boa noite! Não estou aqui para roubá-los. Meu pai é micro empresário falido. Teve que desistir do consórcio do carro importado e há muito não vamos comer em churrascaria, nossas férias no litoral foram pras cucuias, tranquei matrícula na faculdade,minha mãe penhorou às joias para salvar o rango, shopping nem pensar. Aceito real, dólar, cheque pré-datado, ações da bolsa, cartão de crédito, cota de clube, pacote turístico, ingressos de teatro,. Se não me derem uma ajuda vão todos pro inferno de cabeça pra baixo” O que fez os sisudos passageiros caírem na gargalhada.
Outubro de 1997
Lair Estanislau Alves.