Novas lições

Depois de um dia inteiro esgotado do serviço, na espera do ônibus rumo ao caminho de casa. Senta-se do meu lado certa senhora com sua comadre proseando sem parar. Não tendo aonde ir, fico ali na minha mais sempre a escutar. Papo vai, papo vem, falam de tudo um pouco mais.

Sem eu ao menos sequer assistir um capítulos da novela das 20h00min; que por sinal sempre começa às 21: 00 hora, sei o que vai acontecer com cada personagem. Interajo-me também com as fofocas da cidade. Descubro quem está traindo quem. Qual fulano depois de tanto tempo saio do armário, entre outras coisas que, diga-se de passagem, sem nenhum conteúdo acabo sabendo.

Com atraso do ônibus, para variar, e já incomodado com tanta abobrinha, sem elas terem muito do que falar já que falaram sobre tudo, perguntam-me para onde estou indo. Já sabendo do que se trata de comadres que se preocupam com a vida alheia, respondo gentilmente que estou ao aguardo do ônibus que por sinal está novamente atraso e pronto.

Foi o suficiente para surgirem outras perguntas. Vendo meu uniforme da escola, perguntaram qual matéria que leciono. Disse educadamente que era educação física. E para meu espanto, depois de tanto tempo sentado ali escutando o falatório da vida alheia, escuto algo muito agradável. Que minha matéria é algo muito importante para as crianças de hoje em dia que só vivem em frente ao computador e vídeo game, e mal sabem brincar ou realizarem alguma atividade física. Pela primeira vez depois de alguns minutos tive que concordar com elas. E para variar, descubro que dou aulas para um dos netos daquelas comadres. E para meu espanto novamente, era um dos melhores alunos da sala.

Nesta mesma hora pensei comigo, pelo menos neste sentido estou livre dos comentários sórdidos dessas comadres. Na mesma hora, vem um senhor que por sinal muito educado me cumprimentar, dizendo; é vida de professor não é fácil, pois sem eu perceber ele era dono de uma Quintana perto da rodoviária, e como todo bom comerciante, escuta tudo, sabe de tudo, e mesmo assim não viu nada. Pouco tempo depois o ônibus chega e pego o caminho da roça como dizem na minha terrinha.

No outro dia, ao fim de um esgotante dia de trabalho, passo pela Quintana para comprar algum doce e cumprimentar aquele gentil senhor. De poucas palavras ele me olha nos olhos e me diz: Vocês professores são verdadeiros artistas. Espantado com o comentário daquele senhor indaguei sua pergunta: por quê?

Ele como sempre muito gentil. Deu um sorriso, e me disse; Vocês professores trabalham na maioria das vezes em péssimas condições, não são tão valorizados. Muitas vezes tem que dobrar a sua carga horária para poder ganhar um salário digno. Sofrem todos os tipos de comentários, e injustiça. Mesmo assim, faça chuva ou sol, estão lá, todos os dias dando a cara para bater, bem ou mal, com poucos recursos, formando cidadão. Em toda minha vida, nunca tinha recebido um comentário daquele tipo, fiquei tão feliz que parecia que tinha ganhado um premio.

Sai da Quintana com sorriso de orelha a orelha, com a certeza de tudo que ele me falou estava correto, e me fez lembrar novamente pelo qual motivo que me formei.

Mesmo não sendo ator de novela e não tendo audição necessária que todos os professores deverias-te. Todos os dias renovam-me os sentidos, quando vejo um sorriso de um aluno feliz pela aula em si, ou quando sem disser nada, na rua ou pela calçada, vem um aluno correndo me abraçar. Percebo ali o sentido de tudo aquilo que o senhor da Quintana me falou, e me contento de verdade por aquilo que sou. Pois na escola da vida, de quem a gente menos espera, torna-se professor. E eu como bom aluno, estou pronto para aprende.

Sandro Sansão
Enviado por Sandro Sansão em 25/11/2011
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