Diálogos - Subversivo

- Sabe o que eu mais gosto nos videogames? - meu amigo perguntou.

- O que? - continuei.

- As histórias... Cara, tem história de jogo que é mil vezes melhor do que de filmes ou livros. Verdadeiras obras de arte! E as músicas... Incríveis!

- É verdade... - concordei meio sem saber se realmente concordava.

- E você, do que mais gosta?

- Ah, sei lá, de tudo eu acho... - fiquei atônito com a temática incomum, não era algo no qual eu estava pensando ativamente naquele momento.

- Tudo? Nada em especial?

Pensei a respeito. O assunto surgira de forma espontânea, porém estranha. Mas a discussão podia tomar um rumo interessante. Puxei da memória quais características mais me agradavam e me dei conta de que eu já tinha uma opinião formada a respeito.

- Conceitos talvez... - eu disse - Idéias que fogem do óbvio...

- Como assim?

- Coisas que ninguém pensaria em outra situação. Tipo, jogo de tiro é tiro, corrida é corrida, luta é luta...

- E? - ele pareceu se interessar.

- Tetris, por exemplo. Quem pensaria em criar algo como Tetris? A propósito, o que é Tetris?

- É um puzzle! - disse conclusivo - Qualquer idiota cria um jogo assim. Nem tem gráficos tridimensionais...

- Não é disso que eu tô falando. Eu falo do conceito abstrato. Da idéia do contexto.

- Blocos caindo? O que tem de mais nisso?

- Não são exatamente blocos caindo. Isso é uma representação de algo muito maior. É uma metáfora, nunca percebeu?

- Do que? - perguntou erguendo a sobrancelha.

- De tantas coisas. O fim de uma era, o cerco à Stalingrado, a queda do capitalismo, a construção de uma nova ordem política. Os tijolos são as riquezas infindáveis da mãe Rússia, sendo alinhados em igualdade pelo proletariado para fundar os alicerces do socialismo. A música tema é o Korobeiniki, o hino folclórico dos bolcheviques. É tudo uma alusão... Você nunca notou isso?

- Cara... - disse me olhando com um certo espanto no rosto.

- O que?

- Como você é nerd!

"Sim, eu sou."