Sem espelho
Do nome, nunca gostara Jussara: "Que nome mais feio tenho eu"; pensava isso, vez ou outra. Nunca se conformou com a escolha feita pela mãe "Homenagem à amiga de infância", dizia a mãe cada vez que contava a origem de Jussara.
"Ao menos, não me deram nome de santa", comentava, quando estava absolutamente enervada com seu batismo.
Famílias católicas, por tradição, davam nomes bíblicos aos filhos, quando os pais tinham que pagar promessa feitas aos santos e santas.
"Entre meu bem, escolha a roupa que quiser. A festa será sua" - disse a vendedora da loja, na qual Jussara entrou para alugar um traje formal.
Dos vários modelos que experimentou, um lhe calou; não pelo caimento, mas sim pelo que viu no espelho. Olhou para o seu corpo e viu as marcas do tempo estampadas nas pernas, no ventre, na face, por todo o corpo. Aquele visão causou em Jussara profunda tristeza e questionamentos.
"Por que o tempo fez isso comigo? Que mal fiz a ele?"
Não alugou vestido. Voltou para casa, triste, sem ânimo. Envergonhara-se da imagem refletida e que não lhe saía da mente.
Ela conhecia a verborreia que escutaria, a que poderia ler em textos de autoajuda, mas, naquele momento, tudo era ilusório e irreal.
Preferiu não mais se olhar no espelho, até que para a próxima festa fosse convidada.
Ah! O tempo! Senhor de si e de Jussara.