Quando eu crescer...
Estava eu agora há pouco, na minha rotina cotidiana de levar filhos à escola, quando o Dedé (meu filho de seis anos) pegou uma bala do chão e já ia tirando do papel. Eu olhei para ele e ordenei que ele jogasse fora. Ele obedeceu, com cara de emburrado, como se nunca tivesse chupado uma bala na vida. Aí, a Juju (a caçula de quatro anos) olhou bem para ele e disse: - credo Dé! Você não precisa disso, por acaso você não sabe que essas balas perdidas pela rua são as únicas que os menininhos de rua têm para chupar? E ele, com cara de quem tinha entendido a lição disse: - verdade! E continuaram o caminho deles em silêncio.
E eu, quando crescer, quero raciocinar assim, como ela. Um raciocínio tão sincero e livre de máscaras, que se fosse dito por um adulto, já tão hipócrita pelo convívio social, pareceria algo cruel e preconceituoso. Mas dito por ela, quase um bebê ainda, soou aos meus ouvidos como uma verdade incontestável. Triste, mas incontestavelmente real. E eu aqui pensando somente na higiene, nas bactérias, sei lá mais no que... e me esquecendo que existem muitos bebês que comem do lixo e que se fartam com o que a sociedade deixa de lado. Quando eu crescer, quero ser que nem a Juju!