TEMPO AO TEMPO NO AMOR...
Por Carlos Sena

 
Dar tempo ao tempo é um pouco da retórica do amor em tempos de despedida. O tempo não nasceu pra se dar, mas o amor sim. Amor é pra se dar e dar a si a ventura da descoberta do noutro nele mesmo. Permitir que o outro nos descubra é ter certeza de que a fase de “dar tempo ao tempo passou”...
Chega um tempo na vida que a própria vida nos exige no amor. O exigir da vida no amor é a plenitude dela mesma nos tomando a lição do dar e receber por nada. Por isto, dar tempo ao tempo se perde na tentativa. Toda tentativa disto é uma tratativa equivocada de não dizer ao outro que tudo passou de um engano. Se nesse instante os pretensos amantes estiverem verdes em suas propostas, o tempo então se permite ser dado, o contrário não.  
O tempo dos que se amam não se traduz na ortodoxia externa dos minutos, das horas, dos anos. Dentro de cada pessoa que se propõe ao amor extemporâneo, singular, real, talvez nunca precise recorrer ao tempo como forma de diluição do afeto. Tempo bom não se dá nem se pede emprestado. Tampouco se pode dar em nome dele mesmo - como os amantes arrependidos o fazem...
A crise dos amores fracos geralmente termina quando uns dos dois se pedem um tempo. Despedem-se, muitas vezes, apenas pela incerteza que os grandes amores deixam. Por serem grandes, por serem fortes, por serem infinitos, os amores verdadeiros nos dão a impressão de que não nascemos para morrer. Mas quando a morte chega, sobranceira, os amantes se vão como se do outro lado da eternidade o laço se recompusesse. Se não na mesma forma, mas na mesma oxigenação etérea que parece unir as almas que se assumem em nome do amor e que, talvez por conta disto, nunca irão dar tempo ao tempo no amor.