O que é ler pra você?
Ao me deparar com este questionamento senti uma estranha sensação, algo assim parecido com - estar diante do vazio, ou de uma convulsão de pensamentos.
Na ânsia de encontrar um caminho, comecei a rabiscar algumas palavras que de repente pudessem sugerir proximidade com tema em discussão. Entretanto, nenhuma daquelas predefinições ali, diante de meus olhos, encorajaram-me a iniciar uma frase, que me impelisse a tomar uma direção.
Minha consciência já dava sinais de um iminente processo de cobrança: - Uma professora?... Não é capaz de responder a uma pergunta tão simples?...
Confesso que experimentei um grande desconforto. Logo pensei em ler todos os textos como foi proposto e, cuidadosamente, procurar uma luz que pudesse me ajudar a construir um conceito contundente. Então li todos. Todos que havia arquivado, naquela pasta do curso de especialização para educadores de educação das séries iniciais. Lá encontrei vários, porém, o que me chamou atenção foi aquele de Rubens Alves – Concertos de Leitura. Li-o com interesse de pesquisadora. Também porque gosto de música. Sublinhei algumas falas que me atraíram. Ainda assim, não estava conseguindo encontrar uma definição, ou a perfeição dela. Quase a ponto de desistir, vencida pelo cansaço, disse para mim: - Hoje não é o seu dia... você está cansada... amanhã, quem sabe, você estará inspirada. Como sou pertinaz, lutei contra o cansaço do corpo, alonguei o pescoço, girei a cabeça de lado e de outro, recordando-me de um pensamento antigo – Uma obra prima se faz com 99% de trabalho e 5% de inspiração.
Olhei para estante...lá estavam alguns livros...entre eles um pequeno dicionário. Num impulso, levantei-me para pegá-lo... ´
-É você que vai me ajudar, Auréliozinho!
Com o dicionário nas mãos, rapidamente, procurei a palavra e lá encontrei a definição – ler é percorrer com a vista o que está escrito; proferindo ou não as palavras, mas conhecendo-as.
Ufa! Agora sim! Questionamentos vieram à tona: Ler é enxergar? Mas enxergar o quê? Para ler basta ter um bom par de olhos saudáveis? Ou necessário se faz apropriar-se das palavras, do texto, do contexto?
Quem não conhece o dito popular? – “O pior cego é aquele que não quer enxergar”!
Há deficientes visuais que leem partituras; tocam piano ou algum outro instrumento musical. Digitam textos no computador, é escritor. Leem livros, são poetas, enfim compõem obras que os consagram na vida.
As nossas escolas capacitam, anualmente, milhares de pessoas na habilidade de ler, mas que vida afora, não vão ler um livro sequer. Assim como Rubens Alves, eu acredito no dito do Evangelho: “No princípio está a Palavra...”, e é pela palavra que se entra no mundo humano.
Esta reflexão me faz lembrar de minha infância. De quando me retirava, no silêncio do quarto. Era lá que eu encontrava o ambiente adequado para viajar, através da leitura dos livros que gostava.
Para mim a leitura tem algo de religioso, contemplativo, transcendental... E exige um certo ritual: O silêncio, concentração e uma entrega prazerosa. Foi desta forma que me encantei com – “ O meu pé de laranja lima”; “O menino do dedo verde”; “Polyana moça”; “O diário de Anny Frank”, etc.
Ler é um ato prazeroso. É um ócio saudável. O único vício que edifica.
Ler é proporcionar, a nós mesmos, condição de nos tornarmos mais sensíveis às situações de injustiça, marginalização, desamor. Ler de certa forma nos compromete com a construção de um país melhor, porque ler é, indubitavelmente, enxergar o que está além e por detrás das entrelinhas. É interpretar o sentido real da palavra na sua contextura. O que torna o ato de ler algo complexo, porque exige uma visão perspicaz. Ninguém chega a essa visão do real propósito do texto sem o domínio da técnica de leitura.
Tal qual o músico, se o leitor não souber encontrar a entonação certa para os pontos, as vírgulas e as reticências, estancar-se-á nos travessões e não conseguirá exclamar nem tampouco interrogar no momento preciso.
Assim como nossos ouvidos não suportam o som de um instrumento desafinado, da mesma forma não sentimos prazer em ouvir um leitor fora do tom.
14-11-2011
Airamel
Na ânsia de encontrar um caminho, comecei a rabiscar algumas palavras que de repente pudessem sugerir proximidade com tema em discussão. Entretanto, nenhuma daquelas predefinições ali, diante de meus olhos, encorajaram-me a iniciar uma frase, que me impelisse a tomar uma direção.
Minha consciência já dava sinais de um iminente processo de cobrança: - Uma professora?... Não é capaz de responder a uma pergunta tão simples?...
Confesso que experimentei um grande desconforto. Logo pensei em ler todos os textos como foi proposto e, cuidadosamente, procurar uma luz que pudesse me ajudar a construir um conceito contundente. Então li todos. Todos que havia arquivado, naquela pasta do curso de especialização para educadores de educação das séries iniciais. Lá encontrei vários, porém, o que me chamou atenção foi aquele de Rubens Alves – Concertos de Leitura. Li-o com interesse de pesquisadora. Também porque gosto de música. Sublinhei algumas falas que me atraíram. Ainda assim, não estava conseguindo encontrar uma definição, ou a perfeição dela. Quase a ponto de desistir, vencida pelo cansaço, disse para mim: - Hoje não é o seu dia... você está cansada... amanhã, quem sabe, você estará inspirada. Como sou pertinaz, lutei contra o cansaço do corpo, alonguei o pescoço, girei a cabeça de lado e de outro, recordando-me de um pensamento antigo – Uma obra prima se faz com 99% de trabalho e 5% de inspiração.
Olhei para estante...lá estavam alguns livros...entre eles um pequeno dicionário. Num impulso, levantei-me para pegá-lo... ´
-É você que vai me ajudar, Auréliozinho!
Com o dicionário nas mãos, rapidamente, procurei a palavra e lá encontrei a definição – ler é percorrer com a vista o que está escrito; proferindo ou não as palavras, mas conhecendo-as.
Ufa! Agora sim! Questionamentos vieram à tona: Ler é enxergar? Mas enxergar o quê? Para ler basta ter um bom par de olhos saudáveis? Ou necessário se faz apropriar-se das palavras, do texto, do contexto?
Quem não conhece o dito popular? – “O pior cego é aquele que não quer enxergar”!
Há deficientes visuais que leem partituras; tocam piano ou algum outro instrumento musical. Digitam textos no computador, é escritor. Leem livros, são poetas, enfim compõem obras que os consagram na vida.
As nossas escolas capacitam, anualmente, milhares de pessoas na habilidade de ler, mas que vida afora, não vão ler um livro sequer. Assim como Rubens Alves, eu acredito no dito do Evangelho: “No princípio está a Palavra...”, e é pela palavra que se entra no mundo humano.
Esta reflexão me faz lembrar de minha infância. De quando me retirava, no silêncio do quarto. Era lá que eu encontrava o ambiente adequado para viajar, através da leitura dos livros que gostava.
Para mim a leitura tem algo de religioso, contemplativo, transcendental... E exige um certo ritual: O silêncio, concentração e uma entrega prazerosa. Foi desta forma que me encantei com – “ O meu pé de laranja lima”; “O menino do dedo verde”; “Polyana moça”; “O diário de Anny Frank”, etc.
Ler é um ato prazeroso. É um ócio saudável. O único vício que edifica.
Ler é proporcionar, a nós mesmos, condição de nos tornarmos mais sensíveis às situações de injustiça, marginalização, desamor. Ler de certa forma nos compromete com a construção de um país melhor, porque ler é, indubitavelmente, enxergar o que está além e por detrás das entrelinhas. É interpretar o sentido real da palavra na sua contextura. O que torna o ato de ler algo complexo, porque exige uma visão perspicaz. Ninguém chega a essa visão do real propósito do texto sem o domínio da técnica de leitura.
Tal qual o músico, se o leitor não souber encontrar a entonação certa para os pontos, as vírgulas e as reticências, estancar-se-á nos travessões e não conseguirá exclamar nem tampouco interrogar no momento preciso.
Assim como nossos ouvidos não suportam o som de um instrumento desafinado, da mesma forma não sentimos prazer em ouvir um leitor fora do tom.
14-11-2011
Airamel