COMPLEXO DE NAFTALINAS
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Por Carlos Sena

 
Sábado é dia de muita coisa, inclusive de não se fazer nada. Mas se pode fazer o inusitado, pela própria característica de isto ser. Quem por acaso tiver a ilusão de que não tem nada, não possui nada de bem material, cisme de fazer uma “faxina” em sua casa. Quem não tiver casa (mora na casa dos pais), faça no seu quarto e vai ver quanta quinquilharia você tem e que bem poderia estar sendo útil se fosse dada a quem necessita.
Há uma mensagem na internet que nos alerta para criar espaços para coisas novas tanto por fora de nós, quanto por dentro. Por fora, seria mesmo dar o que nos sobra ou mesmo fazer sobrar o que imaginamos que nos serve. Por dentro, eliminando rancores, sobrossos que a vida nos coloca e a gente nem sempre imagina que os tem. Sábado é um dia que se pode fazer um pouco disto. De preferência exercitando os lados de dentro e de fora. De fora quando a gente observa no guarda-roupa e vê que tem muitas calças e camisas que não usamos e que lá fora, há muitas pessoas sem roupas que precisam delas. De dentro, quando a gente nem se imagina que temos rancores guardados que só atitudes de amor poderão nos aliviar. Pode-se, por conseguinte unificar as duas alternativas como forma de se chegar a principal delas que é a paz interior. Imagino que quando a gente começa a se livrar de “entulhos” que guardamos como prova de que somos muito materialistas, a gente começa também a se dissolver internamente dos rancores e dissabores que a vida, aos poucos, vai  introjetando.  O simples fato de limparmos uma gaveta do nosso armário pode nos despertar para a limpeza das nossas “gavetas” interiores – umas abertas com restos de passado; outras fechadas com declarações de amor irrealizáveis; outras entreabertas, mas cheias de picuinhas que querem sair, mas as brechas são pequenas e elas permanecem incólumes; outras cheias de ressentimentos, rancores, mágoas, mas trancadas com a chave escondida nalgum lugar dos nossos recônditos.
A “faxina” nos concede a sensação de espaço aberto para novas aventuras, novos sonhos, novas possibilidades de encontro com o outro, ou conosco mesmos. De repente você poderá se descobrir nos simples fato de remover quinquilharias do seu quarto e da sua casa. Lentamente você poderá descobrir que a vida é cheia de espaços, mas que os espaços não nos batem a porta pedindo pra entrar. Neste caso, ser espaçoso com a vida é se abrir pra ela no entendimento da sua magia. Afinal, a magia da vida não consiste no conforto dos bens matérias, mas no que os bens materiais poderão nos despertar para sermos os mágicos das nossas próprias libertações.
Portanto, sendo hoje sábado, um dia muito bom para a esbórnia, para a fornicação, para o contubérnio dos nossos desejos com os nossos ensejos, talvez a gente possa se fornicar às avessas e se permitir ao complexo de naftalinas expulsando nossas poeiras, nossos bolores idiossincráticos, nossos mofos que a vida ensimesmada nos conduz.

PS – Neste momento em que escrevo, estou com a casa revirada fazendo “faxina” e faxina.