A PUNHETA NO TABULEIRO DO ACARAJÉ DO SENHOR.
Tarde de terça-feira ensolarada de novembro, saio da praia do Canta Galo após concluir a leitura de “ O Homem Que Matou Getúlio Vargas ", passo na feirinha da Calçada, bato uma erva-doce curadíssima no barril e resolvo subir o Plano Inclinado da Liberdade.
Hora do rango.
Alguns metros à minha frente descortina-se a tenda de vendas do Acarajé do Senhor, branca plantada em meio ao calor do asfalto da Lima e Silva, ocupando toda a extensão do passeio para pedestres, remete-me ao Saara, e visualizo beduínos e odaliscas.
Corte para a realidade soteropolitana.
O Acarajé do Senhor é a comida de orixá ungida nas águas do Jordão, purificado (tá amarrado!), e com a devida aquiescência do pastor de plantão na igreja é devorado sem culpa pelos fiéis vespertinos.
Eis que vejo, ali, plantado no tabuleiro, em meio a abarás puritanos, doces santificados, cocadas celestiais, uma punheta. Uma imensa punheta.
Foi a maior punheta já vista em tabuleiro de baiana (agora, baianos também) na cidade de São Salvador da Bahia.
Olha ela lá, lá!.
Incólume em seus estimados 25 centímetros ou mais, exposta no tabuleiro. Fálica. Aguardava ali, o momento de ser adquirida e devorada por uma boca santa, livre de qualquer pecado.
O bolinho-de-estudante, famosa iguaria de tapioca mantido por conta das tradições de nossas tias africanas, junto ao abará e o acarajé, ligados aos rituais das religiões de matrizes africanas foram apropriados por outras derivações religiosas, e transformados em meros objetos de consumo ( acarajé tá dando dinheiro )!, e comercializado nas portas desses templos na cidade. Libertos de todo axé!!!!!!!!!!
Mas, voltando à punheta, não sei se por apelo de indução ao consumo e a economia para os fiéis ou por conta dos delírios oníricos da doceira, mas aquela punheta no tabuleiro do acarajé do Senhor tinha um aspecto solene.
A punheta pode ser profana, mas em certa fase da adolescência ela todo dia é sagrada.
É de micococó, é de conviniência.