O DESCASO COM O SERVIDOR PÚBLICO
A sociedade costuma ver o serviço público como uma vaca de tetas generosas, com servidores ganhando rios de dinheiro e sem trabalhar. Mas não se deve generalizar; antes, é preciso saber o que realmente acontece nas instituições públicas. É muito fácil e cômodo criticar uma classe, sem sequer procurar conhecer a sua rotina de trabalho.
A propósito, apenas uma minoria dos servidores públicos ganha muito bem (especialmente nos quadros do legislativo e judiciário). Porém, a grande maioria (boa parte dos servidores do poder executivo) só não está em situação pior que a dos assalariados, mas sobrevive fazendo verdadeiros malabarismos, na tentativa de proporcionar à família uma vida melhor e mais digna. Muitas vezes, sacrificando a saúde e até a própria existência.
É bem verdade que em todo lugar existem aqueles picaretas que ganham à custa da exploração dos colegas, o que é lamentável. Enquanto uns trabalham muito, outros se escoram e, de fato, ganham fazendo quase nada. Mesmo assim não se deve generalizar, pois em toda regra há exceção.
A realidade do serviço público é cruel e desumana. O servidor não tem o menor estímulo para crescer profissionalmente; tem que ser bastante criativo, pois, muitas vezes não dispõe de ambiente e materiais adequados e trabalha na base do improviso; não tem direito de escolher um setor no qual se enquadre melhor (na Constituição está escrito que “todo cidadão tem o direito de ir e vir”; obviamente, esqueceram de completar que isso só vale para alguns privilegiados); sofre com a falta de companheirismo, cooperação e calor humano, e definha diante da quase total falta de atenção e compreensão dos "superiores", que só estão interessados na execução dos trabalhos, não importando como e a que custo o servidor conseguirá realizá-los.
O pior é que o saldo desse descaso é o "tombamento" de abnegados guerreiros, dia após dia, diante dos olhos daqueles que poderiam fazer alguma coisa para impedir perdas tão precoces, e que nada fazem. Parece até que o servidor esforçado, responsável e competente não passa de mais um equipamento útil; esquecem até que, assim como os equipamentos, esses "objetos" humanos também precisam de manutenção para continuar funcionando bem.
No dia 04/07/2002, o Campus I da Universidade Federal da Paraíba registrou mais uma baixa no seu quadro de servidores técnico-administrativos: o Programa de Pós-Graduação em Letras/CCHLA perdeu a sua secretária (muito competente, responsável e abnegada) que, estressada e esgotada pelo excesso de trabalho, sofreu um acidente cerebral e nos deixou, aos 42 anos. Será que alguém percebeu que seus olhos e seu corpo pediam socorro? Este é apenas mais um exemplo do descaso e da falta de compromisso e amor ao próximo.
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Fiz este “desabafo” em memória de Socorro, colega de trabalho que faleceu muito, muito precocemente. Algumas coisas mudaram de lá pra cá, mas ainda estamos bem longe do ideal.