CIDADANIA
Votar não deve ser um sacrifício, mas sim uma satisfação. Votar é, obviamente um exercício de cidadania.
Em todas as eleições vejo analfabetos, menores de 18 anos e maiores de 70 comparecendo às urnas, para votar. Ambos estão isentos desse compromisso cívico, mas os sentimentos patrióticos extrapolam os limites da lei e prevalece a opção democrática.
Depois desse preâmbulo passo a comentar um fato que não foi explorado pelos jornais da capital mineira. Uma senhora compareceu a uma seção, para votar no neto, candidato a governador. Não pode satisfazer o seu desejo pelo fato de não ter comparecido em três eleições anteriores, e seu nome fora retirado da lista de votação.
Fico pensando: Uma senhora que devia receber uma polpuda pensão dos cofres públicos, que podia desfrutar de confortáveis meios de locomoção, aproveitar a isenção da lei eleitoral, por mais que tente justificar é uma tremenda falta de amor à Pátria. Depois de ter aderido à isenção, mobilizar-se para votar no neto pareceu-me mais obra e graça do corporativismo, nepotismo, etc. Repórteres e TV’s com holofotes saíram com cara de tacho, pois era mais um momento de propaganda política para o queridinho das elites.
Outra gafe: a avó e o neto, que sempre viveram da política, deveriam saber de cor e salteado que três abstenções seguidas resultariam na perda de validade do título. São por esses detalhes que o povo vai perdendo a confiança nos políticos carreiristas.
No mesmo dia em que uma avó não pode votar no neto famoso, Dona Mercedes, uma senhora de 82 anos, que ganha um salário mínimo, caminhava devagar, debaixo de um sol escaldante, rumo à sua seção eleitoral, confiante que, com seu voto, estava contribuindo para mudar o destino do País. Pensei: Isso sim é que amor à Pátria! Uma idosa abre mão de sua isenção e em todas as eleições comparece para cumprir o exercício de cidadania. Bem, o resto puro fisiologismo.
Texto que a imprensa não publicou – Dezembro de 2002.