Um momento...um espanto...
Lá fora a chuva suave e fininha.
Tudo em volta move-se vagarosamente...
Como num filme em flash back, os pensamentos voltam e voltam tentando detectar onde, quando, como nos perdemos.
Num átimo de segundo, algo atingiu e desequilibrou o vaso de cristal de nossos momentos.
Vejo-o no silêncio das lembranças, caindo estilhaçado, caindo lentamente...
Revejo os jardins onde passávamos horas falando de coisas tão bobas e tão nossas...olhos brilhantes e sorridentes pelo prazer simples e puro de estarmos juntos; os pássaros, os pequenos insetos, as borboletas em volta; o cheiro inconfundível das alfazemas e lavandas que a brisa trazia perfumando nosso riso leve e cúmplice.
Ressoa ainda cada doce palavra repetida como eco insistente das recordações.
Pulsa em delírio meu corpo, como um bandolim cujo arlequim não deu o ultimo acorde.
Onde... quando... como...
Houve sim um instante, imperceptível segundo, quando a fagulha da desconfiança trincou o frágil cristal.
Mas foi somente quando nossos olhos já não viam as borboletas azuis, nem ouviamos a cascata ao longe, nem havia mais o cheiro das acuçenas no ar é que percebemos o vaso em pedaços aos nossos pés.
Nos olhamos num espanto só.
Já não éramos. Fomos.
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Lá fora a chuva suave e fininha continua...