...O LADO LIMPO DA CAMA...

Tudo se torna imenso, em questão de segundos me sinto como se estivesse no espaço, mas sem a sensação de leveza, sem a certeza de que estou flutuando no desconhecido. As estrelas piscando não passam de faróis acesos de carros que não se movimentam. A garoa no vidro da janela dá uma impressão de sonho, do sonho que se desperta assustado com a realidade dourada de luz informando que a escuridão se foi. Sim. Atualmente é a luz no fim do túnel que assusta. Não é mais o barulho que tira a concentração, é o silêncio, frio como a pedra de gelo que se dissolve no suco, até desaparecer por completo no centro laranja de Sol no copo que seguro em minhas mãos, Sol vibrante igual ao dos meus desenhos de criança. O quarto permanece revirado desde a noite que nunca acaba. A noite permanece dentro do quarto desde que a bagunça acabou. Nada de sono, de ilusões extraviadas que recolhi hoje em um canal de televisão, como se o sonho alheio bastasse para apagar o que foi escrito a linhas retas durante toda a efêmera existência do amor. O modo como tudo parece fazer sentido é que me deixa confuso, o modo como a vida desapareceu, deixando sujo o lado limpo da cama é que sangra o final das tardes bonitas, basta olhar o céu, ou seus olhos.