PORQUE HOJE É SÁBADO.
Por Carlos sena
Por Carlos sena
Se alguém te perguntar, neste sábado, o que há para fazer, não titubeie: se não pode comprar feito, faça: da sua casa uma pista de dança; da sua cozinha um restaurante chique, da sua cama uma prova de amor. Fazer, num sábado sem muita opção nos induz a fazer de nós a grande atração. Quem sabe pode até nem saber fazer a hora, mas para ser feliz não é preciso ter receita. O bolo da vida é feito de ingredientes inventados, desde que seja fruto da nossa própria imaginação. A imaginação de quem se sente sozinho num sábado é um forte diferencial. Imaginação que poderá nos levar a muitos lugares, mas que certamente nos poderão levar a nós mesmos aos diversos infinitos que o nosso interior alcança.
A solidão do sábado incomoda muita gente. Mas muitos deixam de se incomodar quando descobre que a beleza da vida não está nas receitas que nos dão para fazer o nosso bolo. Os ingredientes que nos servem para romper a solidão de um sábado são simples como os ovos o são para um bolo de fubá. Ouvir a música que você nunca mais escutou; ligar para um amigo querido apenas para dizer-lhe que está tudo bem; beber um bom vinho tinto seco e brindar a si mesmo é uma elevação do ego sem limites; vigiar as horas do sábado e dizer a elas que você tem esse poder pode significar a ruptura do ano com os meses e destes com as semanas, horas, minutos e segundos.
Se alguém te perguntar o que vais fazer neste sábado, podes dizer que não sabes. Sábado não é feito de saberes definidos, mas das indefinições que se casam com a noite que se diz ser criança. Lembro Dom Helder quando dizia que quanto mais negra é a noite, mais longa é a madrugada. Esta longa madrugada poderá ser pequena para que possamos nos desnudar das nossas vaidades rotineiras e nos convida ao rompimento do socialmente estabelecido.
Portanto, não precisa correr para preencher o sábado. Preencha-se dele, mesmo que seja domingo, segunda ou terça. A vida não se esconde nessas casas que o tempo inventou para nos iludir com a eternidade passageira. Afinal, um grande amor pode acontecer em qualquer dia. Uma grande dor também. Assim, a vida se desdobra em sentimentos muito mais do que em casas astrais ou em definições outras de tempo e espaço.
O momento exato em que a rosa se rompe para o mundo, dificilmente a gente flagra. A primeira ruga do nosso rosto, o primeiro cabelo branco, ninguém nunca sabe o dia preciso em que eles se estabeleceram em nós. Assim é o momento da vida em que tudo nos esboça com sabedoria e nós, nem sempre sabemos nos comportar, como num sábado aparentemente chocho.
Se alguém te perguntar o que vais fazer neste sábado, não titubeie: vou me encontrar comigo. Estou com um bom vinho tinto seco que irei degustar comigo junto de mim mesmo. A música do silêncio se encarregará de fazer o meu barulho incidental, enquanto sorvo gole por gole o prazer da vida dividida entre meu ego e meu superego, ignorando o tic tac do relógio cuco que tenta me incomodar mas não consegue.