UM POBRE HOME RICO

Alguém já disse que há pessoas que enriquecem parecendo pobres e outras empobrecem parecendo ricas. Conheci um dos maiores latifundiários do Vale do Rio Doce, que tinha aparência de pobre. Era o homem mais rico da região e um dia o vi questionar o preço de uma refeição. Andava sempre trajando um conjunto de brim caqui descorado e puído na gola e nos punhos. Calçava botinas rústicas. Contavam passagens atípicas desse ricaço. Uma dessas passagens se deu aqui em BH. Ele veio à capital para vender uns bois de corte a um grande frigorífico. Ao chegar no luxuoso escritório, querendo vender uns boizinhos, a secretária não pôs fé naquela figura maltrapilha e o pediu que aguardasse. Naquele movimento de entra e sai da sala do chefe era um verdadeiro desfile de engravatados com seus ternos de cambraia, linhos e casimiras. Paládio estava tomando um chá de cadeira. Quando estava terminando o expediente a secretária confabulou com chefe sobre o homem dos boizinhos. Paládio Ruz entrou e o chefe, sem nenhuma cerimônia já foi dando um ultimato verbal: “Meu senhor, aqui só compramos bois a partir de 200 cabeças”. Paládio Ruz ofertou: “Posso começar com 1.500 cabeças”. O chefe assustou-se e perguntou: “O senhor mora onde?”. Paládio: “Teófilo Otoni”. A ficha do chefe começou a cair, pois já tinha ouvido falar de um grande criador de gado daquela cidade. Perguntou o nome do ilustre desconhecido. Paládio tinha um modo peculiar de anunciar seu nome: “Paládio Ruz, seu criado”. O chefe deu um pulo na cadeira, abraçou-o e disse: “Seu Paládio, o senhor não manifesta!”, e disse à secretária: “Um café para o Sr. Paládio”.

É verdade que estas histórias são um meio de os pobres idolatrarem os ricos. Entretanto se eu não conhecesse de perto essa figura atípica, acharia a história bem fantasiosa, mas é a mais pura verdade. Não usei o nome verdadeiro desse latifundiário. Quem morou na região de Teófilo Otoni, Itambacuri, Campanário, Jampruca, Frei Inocêncio e Mathias Lobato, nos anos 40 aos anos 60 sabe de quem estou falando.

Sô Lalá
Enviado por Sô Lalá em 20/10/2011
Reeditado em 08/08/2014
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