Em algum lugar no céu

Em minha última viagem de avião, fiquei pensando no quanto as nuvens podem ser enigmáticas. Elas brilham sob o sol refletem sobre a terra. As nuvens, provavelmente, viajam o planeta inteiro. E como num passe de mágica mudam, se transformam, se desfazem, se refazem. Quantos lugares uma nuvem pode passar? Quantas histórias podem viver? Quantos fatos presenciar? Quanto do mundo há nas nuvens e quanto das nuvens há em nós?

Gasosas, amontoados flutuantes de algodão, espuma, forro de travesseio celeste. A verdade é que as nuvens não têm cor, não têm corpo, não têm rumo. Elas seguem o fluxo dos ventos, o improvável, o inesperado. Elas são livres e presas ao mesmo tempo. Liberdade para voar, dependência para chegar. As nuvens não têm casa, não têm para onde voltar, a única coisa que elas têm é a vontade de onde gostariam de estar, talvez por sonho ou por simples memória.

Eu aqui, olhando para elas, sinto vontade de mergulhar neste mar de gases brilhantes. Jogar nuvem para cima, bater sobre a margem ou, simplesmente, boiar sobre elas. Na verdade, às vezes, me sino assim meio nuvem. Algo meio gasoso e semi-brilhante. Um pedaço qualquer de gente flutuando sobre a história, sem muita ingerência, sem um final feliz, senão diluir-me na existência.

Não tenho dúvida de que este azul celeste em degrade rente as nuvens foi escolhido por Deus, que na sua arrojada obra-prima ganhou o prêmio Casa-Cor da eternidade. Sei que o começo e o fim estão com Ele, como numa brincadeira de Siga o Mestre. Minha questão é sobre o quanto é, de fato, bela e bem feita minha imitação do destino, do roteiro divino, do script original.

Será que é aqui mesmo que minha sobra deve repousar? Quais ventos devo eu seguir? Minuano, meridional, subir aos trópicos, planar sobre o mar? Que forma devo desenhar em minha nuvem no céu? Uma janela? Um sapato? Uma flor? Uma chave? Ou uma mão?

Cabreira
Enviado por Cabreira em 18/10/2011
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