O CORREDOR

Naquele corredor estavam estampados sentimento de muitos anos de minha vida. Em cada retrato podia se reviver um momento especial ou não. A mãe, zeladora da infância que não retorna, a irmã pequena ainda que hoje clama por cuidados de mulher e meus quadros fixados ali sem molduras, restos de meu tempo.

E eu passo inúmeras vezes por esse corredor e nem reparo. Ali tanta vida, deixei parte de mim. E esse pedaço me faz falta e eu volto, volto, mesmo sem perceber. E é tão estreito que mal me deixa de braços abertos. E eu me sento ali, eu me deito ali. Junto a restos de poeira e pequeníssimas comitivas de formigas que me olham como gigante. A luz parece também seguir seu curso assim como o vento.

Então percebo a falta e a saudade do que já vivi. Que nada volta a não ser ali entre aquelas paredes. As emoções voltam e me arrependo. Não um arrependimento egoísta, mas saudosista. Quase que uma comparação, se fosse hoje eu faria assim. Onde deixei tantas pessoas? Porque as cosas não foram como queria que acontecessem?

As lembranças são como pequenas cenas do meu filme e eu volto sempre que posso ao corredor. E muito penso no que poderia ter sido ou feito, ou não ter feito. As janelas desses retratos me mostram que continuo perdendo. Mas que o tempo, perdendo a disposição para olhar para trás.

Dói ver que algo esta tão vivo dentro de mim e já morreu. Talvez essa vida seja um sonho e meus momentos simples devaneio. Seria bom acreditar que vou acordar, mas não acordo e durmo no corredor. Posso apagar a luz e as paredes não percebo, mas eu sei, ele esta ali, fiel zelador de minhas lembranças.

Minha vida esta presa em molduras. Algumas baratas e pouco alegres cercas brancas em meu passado.

Tenho pensado muito no que o corredor me faz. Me trás total falta de vontade de olhar pra frente. O passado me encanta, erros e acertos. Eu sempre busco ser o que não fui.

A falta que me faz não saber tanto de mim mesmo. Eu não sabia para onde ia, nem se os meus sempre me amavam. Mas eu sabia, mesmo que inconsciente, que me amavam e eu sentia calado esse amor. Pena que só notei no futuro. E nesse meio tempo vou perder bem mais que o hoje. Os que eu ainda tenho não estarão mais aqui, estarão no corredor. E talvez eu pense no quanto que teria sido bom se eu tivesse aproveitado o antigo futuro.

Por isso eu preciso passar por esse corredor para me lembrar que hoje eu sou senhor de minhas ações, que estão no corredor sendo boas ou não. Basta e resta a minha vida o trabalho de viver para ter saudade, para sonhar em ter para esquecer.

Eu retorno sempre ao corredor...