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A HORA DE DESFAZER O NINHO

Tudo começa quando um homem e uma mulher se unem em casamento, dividindo o aconchego, os sentimentos e todo o mais que seja inerente à vida de um casal.
Corre o tempo, vem à gravidez, nascem os filhos e aos poucos uns vão aprendendo a lidar com os outros. A parceria existente entre o casal, aos poucos vai sendo transferida para os filhos.
Um terço da nossa vida, em geral, é vivenciado ao lado deles. Estes recebem os primeiros e fundamentais ensinamentos, que carregarão para o resto de suas vidas. Nessa faze, todo cuidado é pouco, todo carinho será bem vindo, todo apoio será necessário, pois é assim que os pais contribuem na formação da personalidade dos filhos.
Uma grande carga de amor é plantada, tanto nos pais quanto nos filhos. Com o passar do tempo, esta carga vai se expandindo nos pais e se evadindo nos filhos.
Há uma razão para isso: à medida que o tempo decorre, os pais vão envelhecendo e veem nos seus filhos, suas imagens refletidas, como se pudessem reiniciar o mesmo processo dos tempos de juventude; ao passo que os filhos, vão se distanciando do velho processo, pais e filhos, e saem à cata do start, para o novo ciclo que se inicia: a vida a dois.
Um novo recomeço, um homem e uma mulher, o casamento, um novo lar é montado, é o começo de um novo ciclo dentro desse velho processo.
Nesse tramitar da vida, cabe tão somente aos pais, a árdua tarefa de desconstruir, desarrumar e reestruturar um novo ambiente no antigo lar. Desconstruir e reconstruir não apenas o ambiente abandonado, mas desarrumar e reestruturar também a carga emocional acumulada em suas psiques, carga adquirida no decorrer da estada dos filhos, nos lares montados não só para os pais, mas para todo o grupo, ou seja, a família: pai, mãe e filhos.
Por mais que nos preparemos para estas ocasiões, creio não ser fácil para ninguém, desmontar uma estrutura vivenciada por mais de 20 anos, um dia apos o outro, uma noite a cada dia, e de repente, a espera: seis meses, um ano, sabe-se lá...
Quando verdadeiramente se faz uma família, a desconstrução dos hábitos diários, torna-se mais complicado, mais prolongado e alguns deles, nunca se esquece totalmente.
Foi assim comigo, com meus amigos e por certo será assim quando chegar a sua vez. Em nada adianta se preparar para isso, até porque eu achava haver me preparado, mas que nada, para a desconstrução dos ninhos, não há ensinamento porque não há aprendizado, há apenas a espera: um dia após o outro, uma noite após um dia. Então um homem, uma mulher e o ciclo a se repetir... Que todos tenham uma boa hora de desfazer o ninho.
 
                                Rio, 09/10/2011
                              Feitosa dos Santos