Balde de água fria
Estou a ler o livro do escritor português António Lobo Antunes, As coisas da Vida e a me deliciar com ele. São 60 crônicas das quais li as primeiras, mas já encontrei material suficiente para escrever pelo menos uma crônica: esta, que agora principío.
Sentei-me a mesa da cozinha, lugar mais fresco que encontrei e munida com uma lapiseira, reli a crônica A compaixão do fogo. Reli e fiz anotações enquanto Joca e Pongo dormitavam sobre o piso frio. E me chamou a atenção o autor dizer que reler um livro é como visitar um cemitério de palavras mortas. Não sei se concordo ou discordo dessa afirmativa porque não tive tempo ainda de pensar sobre o assunto, mas assim de momento está me parecendo que a releitura desse texto está mais para uma fonte de águas claras e translúcidas do que para cemitério. Estou intuindo que, de cada vez que for reler, vou beber das águas da inspiração.
Vou copiar aqui algumas das coisas que ele escreveu e que eu sublinhei com minha lapiseira de ponta rombuda e anotei para mais tarde falar a respeito, embora minha caderneta de anotações, esta sim, está mais para cemitério abandonado de palavras mortas porque raramente a consulto (visito).
“... a existência é a arte do inacabado que a morte interrompe de súbito como uma piada de mau gosto...”
“... ser dotado é ir além do que pode.”
“As ideias muito fortes desaguam nas certezas e onde estiverem certezas a arte é impossível”.
“... minha sede de aplauso mundano é nula porque o meu apetite de escrever é enorme.”
Sobre Tolstoi escreveu quase um parágrafo inteiro, contando que enquanto agonizava em uma estação ferroviária, isolada pela neve, deitado em uma espécie de maca, os seus dedos desenhavam no lençol letras e letras que o encarregado dos comboios ia tentando ler.
Mas a frase que tanto me marcou e que me fez reler a crônica e sei que vou relê-la outras vezes para jogar para bem baixo o meu pedantismo é a que fala sobre o grande engano que cometemos ao chegar a certo ponto da existência: passamos a confundir certos comportamentos/sentimentos que adquirimos com outros que nem chegamos a pensar. Eu pelo menos senti que recebi um balde enorme de água fria, pois eu já estava acreditando que a cada dia que passava eu estava me tornando mais sábia e paciente, quando na verdade o que acontece é que nos acomodamos a vida que vivemos e passamos a confundir resignação com sabedoria e desinteresse com paciência.
Estou a ler o livro do escritor português António Lobo Antunes, As coisas da Vida e a me deliciar com ele. São 60 crônicas das quais li as primeiras, mas já encontrei material suficiente para escrever pelo menos uma crônica: esta, que agora principío.
Sentei-me a mesa da cozinha, lugar mais fresco que encontrei e munida com uma lapiseira, reli a crônica A compaixão do fogo. Reli e fiz anotações enquanto Joca e Pongo dormitavam sobre o piso frio. E me chamou a atenção o autor dizer que reler um livro é como visitar um cemitério de palavras mortas. Não sei se concordo ou discordo dessa afirmativa porque não tive tempo ainda de pensar sobre o assunto, mas assim de momento está me parecendo que a releitura desse texto está mais para uma fonte de águas claras e translúcidas do que para cemitério. Estou intuindo que, de cada vez que for reler, vou beber das águas da inspiração.
Vou copiar aqui algumas das coisas que ele escreveu e que eu sublinhei com minha lapiseira de ponta rombuda e anotei para mais tarde falar a respeito, embora minha caderneta de anotações, esta sim, está mais para cemitério abandonado de palavras mortas porque raramente a consulto (visito).
“... a existência é a arte do inacabado que a morte interrompe de súbito como uma piada de mau gosto...”
“... ser dotado é ir além do que pode.”
“As ideias muito fortes desaguam nas certezas e onde estiverem certezas a arte é impossível”.
“... minha sede de aplauso mundano é nula porque o meu apetite de escrever é enorme.”
Sobre Tolstoi escreveu quase um parágrafo inteiro, contando que enquanto agonizava em uma estação ferroviária, isolada pela neve, deitado em uma espécie de maca, os seus dedos desenhavam no lençol letras e letras que o encarregado dos comboios ia tentando ler.
Mas a frase que tanto me marcou e que me fez reler a crônica e sei que vou relê-la outras vezes para jogar para bem baixo o meu pedantismo é a que fala sobre o grande engano que cometemos ao chegar a certo ponto da existência: passamos a confundir certos comportamentos/sentimentos que adquirimos com outros que nem chegamos a pensar. Eu pelo menos senti que recebi um balde enorme de água fria, pois eu já estava acreditando que a cada dia que passava eu estava me tornando mais sábia e paciente, quando na verdade o que acontece é que nos acomodamos a vida que vivemos e passamos a confundir resignação com sabedoria e desinteresse com paciência.