É cada coisa que a gente lê!
 

O garçom passa equilibrando a bandeja repleta de garrafas e copos e pergunta ao cliente: Vai uma baratinha frita ai, o meu?  A mulher ao lado do cliente faz um biquinho e diz: Ah, não mô, eu prefiro uma fritada de grilos.

Certamente não vai demorar muito para esse papo se tornar comum nos botecos do país, começando certamente por Belo Horizonte. Isso porque uma reportagem do Estado de Minas, Caderno Economia, escrita por Paulo Henrique Lobato, nos dá conta que breve, muito breve, uma poderosa empresa mineira estará comercializando baratas, grilos e larvas de besouro para serem degustadas pelos humanos. O empresário que teve essa brilhante ideia é conhecido como um visionário, uma espécie de Midas tupiniquim – toda ideia que ele tem para um negócio se transforma em ouro. Vamos ter inclusive novas profissões para serem reconhecidas como tal e permitir inclusive todos os benefícios da Previdência: os Caçadores de Grilos, os Catadores de Baratas e os Criadores de Larvas de Besouro. O tal empresário garante inclusive que já experimentou todas essas delícias tendo gostado muito da barata frita.

Comer insetos não deveria ser novidade para mim, mesmo assim embrulhou-me o estômago só de pensar.  Minha mãe conta que quando menina comia bundinha de tanajura. Uma farofa de bundinha de tanajura é até fácil de fazer, descontando-se o fato de ainda não ser possível comprá-las em açougues ou em vidros de conserva – precisa-se primeiro caçar as tanajuras, retirar-lhes as bundinhas e fritá-las na gordura com sal. Depois é só colocar a farinha e comer.
 

Não vou ficar surpresa se esses pratos passarem a fazer parte dos melhores restaurantes, já que as pessoas comem as coisas mais esquisitas do reino animal e pagam caro para isso. Certamente vão ser pratos caríssimos, pois só para ter uma ideia: o quilo de baratas está custando R$ 200,00.

Se os homens são capazes de comer as coisas mais estranhas, imaginem os bichos. Levei meus dois pequenos, o Joca e o Pongo, para fazerem suas necessidades antes de dormir e o local que utilizam para isso é um corredor lateral ao lado da casa. Como não tem luz ali eu os deixo ir e fico esperando a volta. Dia desses, nada de voltarem, tive que ir busca-los e percebi, mesmo no escuro que eles estavam disputando algo para comer. Tentei tirar deles e peguei em algo gelado que pensei até ser um sapo. Tirei-os dali apressadamente e voltei com uma pequena pá para recolher o motivo da disputa e descobrir o que era. Pois eles disputavam o corpo de um filhote de passarinho que caiu do telhado. E isso me faz lembrar o ortolan e seu triste destino.

O ortolan (pássaro jardineiro) é francês, protegido em toda Europa, porque está em extinção. Na França é proibido vendê-lo, mas não é proibido comê-lo. E a maneira de prepará-lo é uma das coisas mais cruéis que já  ouvi falar e li. São capturados pequenos, têm os olhos furados, são alimentados à força para engordarem, afogados em conhaque e assados inteiros, sem abrir, com penas e entranhas. Ao servi-los as cabeças são tampadas com um guardanapo branco, mas o que não descobri é se são as cabeças dos pássaros ou a dos comensais. O pássaro é colocado inteiro na boca, ficando o bico para fora. Então se dá uma mordida e descarta o bico passando a seguir a saborear a iguaria.

Ai que nojo! É cada coisa que a gente come!