Atrapalhada
O pior de tudo é que tenho que concordar com eles: sou lerda demais. Eles, são a minha família. E outros também, que são mais discretos e não falam assim na lata. Mas quando eu ainda estava trabalhando na Prefeitura, eu ia saindo e os meus funcionários vinham atrás dizendo: os óculos, a chave, a bolsa, a cabeça... Na Fábrica de Pães é a mesma coisa: um dia saio com os boletos para pagar e deixo o dinheiro para trás; no outro, saio com o dinheiro e deixo os boletos. A sorte é que agora pago os boletos em uma Agência Lotérica que fica bem na frente da Padaria, assim posso voltar na moita e ninguém fica sabendo que troco os pés pelas mãos.
Tendo conseguido quebrar meu jejum literário, como já contei em texto anterior, estou lendo A arte de ser leve, de Leila Ferreira. É um livro gostoso, acordo às cinco da manhã e enquanto espero a hora de levantar, vou lendo. Um dos temas abordados é o do bom humor. Ela, como boa mineira, conta causos, boas histórias com o objetivo de mostrar que aqueles que levam a vida bem humorados têm tudo para terem uma vida melhor. Eu só posso concordar com ela. Se quando eu faço uma dessas minhas geniais besteiras eu fosse reagir com mau humor, estava perdida. A vida ia ser uma arena onde eu teria que digladiar todos os dias. Hoje mesmo aconteceu algo comigo que só mesmo rindo. Vou aos bancos todos os dias, três bancos. Em cada um deles tenho que abrir a bolsa e tirar dela tudo que emperra a porta eletrônica. Além do celular, molhos de chaves e hoje, por extrema necessidade eu estava com cinco chaveiros. Pois bem: em um desses bancos é preciso pegar uma senha para cada coisa que se vai fazer. Para adiantar eu tirei os objetos da bolsa e estava com eles nas mãos. Quando chegou a minha vez o funcionário encarregado de tirar a senha começou a olhar para baixo como se estivesse procurando algo. Eu, intrigada, acabei olhando também e logo vi um dos meus chaveiros esparramados no chão. Oh, que bom que você o ouviu caindo, eu ia ficar doida, procurando! Eu disse e ele retrucou, apontando com a cabeça para o guarda do outro lado da porta de vidro, não fui eu, foi ele. De qualquer forma agradeci aos dois e me dirigi para a cancela a fim de colocar os objetos e do outro lado do vidro estava o guarda apontando com a cabeça para o chão. Olhei na direção que ele indicava e lá estava a minha senha, pronta para ser levada por um solado masculino. Peguei-a e entrei para fazer o que tinha de fazer, fiz e voltei para pegar outra senha. Estava com a bolsa na mão e por um minuto fiquei indecisa: ia sair com ela para pegar outra senha e para entrar de novo teria que recomeçar com a dança eletrônica – tira celular, tira chave, tira sei lá mais o que para entrar de novo. O guarda, percebendo minha hesitação, compreendeu e disse: Deixe a bolsa ali na cadeira, olho para a senhora. Muito grata parti em busca da nova senha e o interrogatório continuou: “Número de sua conta, Senhora.” “Esqueci”. “E o seu CPF” “Também esqueci”. Foi aí que ele arrematou com a pergunta que me fez rir um bocado: “E o seu nome, Senhora, será que ainda sabe?” Por sorte eu sabia, mas como em vez de dizer eu ria, ele, que me conhecia, simplesmente digitou o meu nome para descobrir o número da minha conta. Foi aí que a memória voltou e eu lhe disse o número que estava na ponta da língua, antes que o computador o fizesse.
O pior de tudo é que tenho que concordar com eles: sou lerda demais. Eles, são a minha família. E outros também, que são mais discretos e não falam assim na lata. Mas quando eu ainda estava trabalhando na Prefeitura, eu ia saindo e os meus funcionários vinham atrás dizendo: os óculos, a chave, a bolsa, a cabeça... Na Fábrica de Pães é a mesma coisa: um dia saio com os boletos para pagar e deixo o dinheiro para trás; no outro, saio com o dinheiro e deixo os boletos. A sorte é que agora pago os boletos em uma Agência Lotérica que fica bem na frente da Padaria, assim posso voltar na moita e ninguém fica sabendo que troco os pés pelas mãos.
Tendo conseguido quebrar meu jejum literário, como já contei em texto anterior, estou lendo A arte de ser leve, de Leila Ferreira. É um livro gostoso, acordo às cinco da manhã e enquanto espero a hora de levantar, vou lendo. Um dos temas abordados é o do bom humor. Ela, como boa mineira, conta causos, boas histórias com o objetivo de mostrar que aqueles que levam a vida bem humorados têm tudo para terem uma vida melhor. Eu só posso concordar com ela. Se quando eu faço uma dessas minhas geniais besteiras eu fosse reagir com mau humor, estava perdida. A vida ia ser uma arena onde eu teria que digladiar todos os dias. Hoje mesmo aconteceu algo comigo que só mesmo rindo. Vou aos bancos todos os dias, três bancos. Em cada um deles tenho que abrir a bolsa e tirar dela tudo que emperra a porta eletrônica. Além do celular, molhos de chaves e hoje, por extrema necessidade eu estava com cinco chaveiros. Pois bem: em um desses bancos é preciso pegar uma senha para cada coisa que se vai fazer. Para adiantar eu tirei os objetos da bolsa e estava com eles nas mãos. Quando chegou a minha vez o funcionário encarregado de tirar a senha começou a olhar para baixo como se estivesse procurando algo. Eu, intrigada, acabei olhando também e logo vi um dos meus chaveiros esparramados no chão. Oh, que bom que você o ouviu caindo, eu ia ficar doida, procurando! Eu disse e ele retrucou, apontando com a cabeça para o guarda do outro lado da porta de vidro, não fui eu, foi ele. De qualquer forma agradeci aos dois e me dirigi para a cancela a fim de colocar os objetos e do outro lado do vidro estava o guarda apontando com a cabeça para o chão. Olhei na direção que ele indicava e lá estava a minha senha, pronta para ser levada por um solado masculino. Peguei-a e entrei para fazer o que tinha de fazer, fiz e voltei para pegar outra senha. Estava com a bolsa na mão e por um minuto fiquei indecisa: ia sair com ela para pegar outra senha e para entrar de novo teria que recomeçar com a dança eletrônica – tira celular, tira chave, tira sei lá mais o que para entrar de novo. O guarda, percebendo minha hesitação, compreendeu e disse: Deixe a bolsa ali na cadeira, olho para a senhora. Muito grata parti em busca da nova senha e o interrogatório continuou: “Número de sua conta, Senhora.” “Esqueci”. “E o seu CPF” “Também esqueci”. Foi aí que ele arrematou com a pergunta que me fez rir um bocado: “E o seu nome, Senhora, será que ainda sabe?” Por sorte eu sabia, mas como em vez de dizer eu ria, ele, que me conhecia, simplesmente digitou o meu nome para descobrir o número da minha conta. Foi aí que a memória voltou e eu lhe disse o número que estava na ponta da língua, antes que o computador o fizesse.