Estou ficando louco!
Moro neste prédio há mais de 20 anos e, juro, nunca houve um mês, um ínfimo mezinho só, sem nenhuma obra em execução num apartamento qualquer.
 
A coisa é tão alarmante, que quando eu chego da caminhada matinal, dou uma paradinha na portaria e aguço meus ouvidos na vã esperança de nada ouvir, mas qual o que; em algum lugar nos 16 andares do prédio chega até mim o famigerado tum-tum-tum, seguido do br-br-br.
 
A culpa, porém, é minha mesmo, que sou vagabundo, rato-de-praia e na boa vida de aposentado passo grande parte do dia em casa, após a minha obrigatória visita ao mar.
 
Benditos os que trabalham, os que vão para seus escritórios refrigerados e só voltam à tardinha, enquanto este pobre inativo fica aturando a barulheira.
 
- Ora, se você tem todo o tempo do mundo, então saia também, pegue o seu Petit Maurice (meu carro pra quem não sabe) e vá dar uma voltinha!
 
Tem razão, caro leitor, só que é o mesmo que trocar 6 por meia dúzia.  Pego o carro, encaro um trânsito infernal, aturo um milhão de buzinas gritando, corro o risco de bater em alguém ou ser assaltado, driblo os quebra-molas, fico de olho nos semáforos e nos pardais, afora a possibilidade de ser multado por uma bobagem qualquer.
 
Então, amigos, o lugar mais seguro, mais tranquilo e aconchegante é mesmo o meu pequeno apê, onde posso ficar olhando o mar quebrando na praia, os biguás em voo rasante passando pertinho da varanda em busca de alimento na lagoa de Marapendi e as ilhas Tijucas, que parecem flutuar na tranquilidade do mar.  Só que, para usufruir de toda essa beleza, teria que ser surdo que nem uma porta!
 
Mas esta semana a coisa esquentou como nunca; estou no meio de dois apartamentos em obras!  Pois então, exatamente ás 8 horas da matina, começa a agonia; tum-tum-tum, br-br-br de um lado e, logo, o contraponto do outro br-br-br, tum-tum-tum - e isso vai até ás 16 horas!
 
Falando sério, acho que o tum-tum-tum é o marcador do rítmo dessa música louca, porque o br-br-br só começa depois do tum-tum-tum e, quando este cessa, o outro para também.
Eu bem que tento me concentrar e dar curso ao meu trabalho, mas quando estou catando meus milhos no teclado e me preparo para escrever uma palavra, ao invés de contemporaneamente, vem um forte TUM-TUM-TUM e o que sai é isso - c9ht60r4me39ht#j5.
 
Ah! Guerra é guerra e isso não vai ficar assim, não!
Já tenho meus planos prontinhos.
Amanhã mesmo vou comprar duas belas marretas e eu e a Lee (minha consorte) ficaremos frente às paredes limítrofes só esperando o surdo repicar.  Aí, a gente entra em ação martelando também, mas em  andamento diferente..
 
Aposto que vamos fazer aqueles bandidos “atravessar” o samba!