SOLIDÃO DE AFETO... Porque conselho bom se dá.
Por Carlos Sena.
 

Talvez a segunda-feira seja o dia que massacra mais os solitários. Nas questões que envolvem SOLIDÃO, tudo tem que ser meio "talvez". Porque ela (a solidão) é um estado de espírito pra muitos, mas pra outros, uma realidade dura de difícil convivência. Ainda pra outras pessoas, uma necessidade tão natural quanto alimentar-se todo dia, como respirar. Fato é que tudo nos parece ser um processo dentro dessa relatividade, exceto os casos em que a solidão tem componentes patológicos, o que já é bastante comum nestes tempos de relativa modernidade.

Preferimos referenciar a solidão em seu sentido mais social. Afinal, nós somos produtos do meio e sobre ele poderemos interferir. Enquanto produto social, estar só tem várias conotações, inclusive aquela que nos permite viver sozinho por opção... Certamente que há quem se esconda nessa opção, mas guarde os reais motivos dentro dela. Nesses casos, fica difícil incursionar, pois tudo indica ser mais do domínio da Psiquiatria, Psicologia, etc. Por isto nos bastamos na configuração da solidão com viés social, necessariamente não sociológico. Nestes termos ela também é complexa, posto que possa descambar em outros segmentos, inclusive o patológico. Independente, segue a solidão seus vários caminhos e até descaminhos. Contudo, a solidão da alma é preocupante e talvez tenha sua grande “moradia” nas segundas feiras. Solidão da alma é a solidão de amigos; solidão da alma é aquela tão bem definida por Chico numa canção: “a saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu”... Solidão e saudade são irmãs gêmeas? Ou é a saudade que rumoreja a solidão? Solidão de homem e de mulher quando se separam, eis que um processo doloroso de solidão se instala. Mas passa como passa uma chuva de verão e logo vem o sol convidando a novos passeios. Solidão de velhice é arrasadora, mas igualmente passageira como tudo. Passar rápido ou não passar é apenas um detalhe. A dor da solidão se instala quando nossos símbolos sagrados estão impedidos de atuarem em nós por agentes externos. 

Se me pedissem um conselho para quem está na solidão de amigos, por exemplo, eu diria que solidão de amigos nos tolhe os movimentos externos. Porém se me perguntassem acerca de um conselho para solidão de afeto, eu diria que aí tudo se torna meio temeroso. Solidão de afeto se dá quando nossos símbolos sagrados não encontram retorno nas outras pessoas. Talvez porque no nosso trajeto de vida, nos acostumamos demais a colocar nas outras pessoas as questões do nosso afeto. Como conselho bom se dá, sugiro que seja prático com a vida. Identificar que nossos afetos estão morrendo, ou matados por outrem, não requer choramingo. Ou até requer, desde que consciente de que estamos investindo noutro processo de vida e de amorização. A autoestima é quem primeiro declina nesses casos, mas é preciso que assim seja. Como dissemos, SER PRATICO nestes casos é fundamental. Rever os dois lados da sua moeda existencial é fundamental até que sua solidão seja a sua própria solidão, não aquela em que seus afetos foram combalidos de fora pra dentro. 

A segunda-feira é um pouco desse dia em que muitos que sentem solidão de afeto se imiscuem. Não por quererem, mas pela simbologia meio enfadonha da segunda; pela exclusão que de certa forma ocorre, de uma maior badalação nos finais de semana. Questões de somenos importância, se entender que o outro lado dessa moeda é o estado de espírito. Solidão enquanto estado de espírito é solidão relativamente boa porque é consentida. Há necessidade humana de isolamento social temporário. Sendo um estado de espírito, exercitar isto é o que mais dá trabalho interior, posto que alguns valores terão que ser rompidos, outros interrompidos para que novos sejam encalacrados. 

Finalizo sugerindo que a solidão é pra muitos o grande mal do século. Mas quem consegue entendê-la em seus princípios sociais elementares, certamente vai conviver bem com mais esse viés comportamental. Atordoante, com certeza, mas é um  indicador dos melhores acerca de algumas atitudes que precisamos tomar com consciência para melhor vivermos com os outros e, acima de tudo, conosco. Pra não me esquecer: "ninguém morrerá acompanhado, mesmo no caso de um acindente aéreo"...