DUVIDO DÊ-Ó-DÓ

DUVIDO DÊ-Ó-DÓ

Rangel Alves da Costa*

Por mais que muitas pessoas tenham mania de ver possibilidade em tudo e sejam adeptas do relativismo nas relações cotidianas, existem coisas que discordo até a morte, que prego logo que simplesmente não existem, e pronto.

Que venham com seus pontos de vista de lá que expresso os meus entendimentos de cá, mas sou cético e continuarei sendo até que provem que diante de muitas situações negarem o óbvio é o mesmo que querer mentir pra si mesmo.

No mais, nem me venham com explicações reducionistas, defensivas demais, fragilizadas ao extremo, que logo direi na cara que duvido dê-ó-dó. E querem saber por quê?

Vocês já viram uma mocinha nova, bonita e cheirosa se apaixonar por um senhor já idoso, já com muitos anos vividos, e ainda por cima pobre de marré-de-si? Não e não, porque se de repente o mundo se espanta em ver o surgimento de tamanho amor entre pessoas de idades tão diferentes, é simplesmente porque não quer aceitar que ali está havendo um verdadeiro golpe do baú. Assim, duvido dê-ó-dó que a mocinha não esteja apenas de olho no dinheiro do coroa.

Vocês já ouviram em algum sermão, da boca de algum religioso, padre ou do papa, de um católico devotado, ou ainda os meios de comunicação afirmando que existe uma passagem no Sermão da Montanha dizendo que a prática do adultério pode ser justificada? Certamente que não, mas existe, e contradizendo até mesmo os dez mandamentos. Eis o que está escrito em Mateus 5, 32: “Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adultério, e qualquer que casar com a repudiada comete adultério”. Então, o adultério estaria justificado se a mulher for repudiada pelo esposo. Mas duvido dê-ó-dó que a igreja procure destrinchar essa passagem bíblica.

Vocês já viram quanta hipocrisia e demagogia nessas pessoas, organizações e emissoras de televisão que tanto pregam a não-violência e ao mesmo tempo transmitem e aplaudem esportes cada vez mais violentos, como o tal de UFC? Certamente incorrem no repentino esquecimento daquilo que tanto pregam porque há muitos milhões envolvidos nisso e cada um quer é a sua fatia, ainda que o sangue esteja jorrando pela televisão e respingando nas crianças e adolescentes. E duvido dê-ó-dó que reconheçam publicamente que esse tipo de esporte é o que de mais abjeto possa ser praticado. Contudo, mais tarde esses mesmos estarão veiculando mensagens com pombinhas da paz e tudo o mais e dizendo que basta de violência.

Vocês já ouviram dizer, sabem, sonham ou têm certeza que a igreja é uma das instituições mais capitalistas e materialistas do mundo, com riquezas, entre ouro, bens e propriedades, de somas inimagináveis? Pois acredite que é. Mas por outro lado, vocês já viram essa mesma igreja que tanto prega a caridade, a ajuda aos mais necessitados, o despojamento dos bens materiais para se alcançar a salvação, o partilhamento do que se tem em demasia com o próximo, dar uma esmola sequer ao mais pobre dos pobres? Muitas vezes os religiosos promovem campanhas e mais campanhas para ajudar desabrigados ou desfavorecidos por qualquer funesto acontecimento, mas de sua riqueza, dos seus cofres, de sua gorda conta bancária não tira um só centava para ajudar a ninguém. Em muitos lugares, nem adianta um pobre dizer que não tem o dinheiro para pagar o batizado do filho que lhe é logo dito que só volte à igreja quando tiver a quantia certa. Por isso mesmo que duvido dê-ó-dó que a maioria desses sacerdotes, da mais baixa a mais alta hierarquia religiosa, tenha salvação.

Todos, do mais humilde ao mais rico, devem ser respeitados igualmente na sua condição de ser humano, mas duvido dê-o-dó que o nome, o sobrenome, o anel no dedo, a profissão ou o cargo exercido não vá fazendo com que todo mundo esqueça essa isonomia humanitária. E duvido dê-ó-dó que a pessoa que lhe deve algum dinheiro e não quer pagar não se torne seu inimigo, não fale mal de você, não faça tudo para que os outros fiquem pensando que você é um verdadeiro safado, corrupto, imprestável. E ainda duvido dê-ó-dó que uma só pessoa, seja lá a vida que levar mais tarde, esqueça daquele amor de infância que mais amou, daquelas tardes enamoradas e daquela doce feição que ainda é lembrada assim, sempre doce e meiga, ainda que seja muito tempo depois.

E por último, divido dê-ó-dó que alguém não discorde do que duvidei.

Poeta e cronista

e-mail: rangel_adv1@hotmail.com

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