REACIONÁRIO
Religião, política e futebol nunca interferiram a ponto de prejudicar minhas amizades. Um comportamento salutar, acredito, para uma boa convivência social. Sempre procurei respeitar a ideologia dos outros, resguardando o meu direito de divergir, claro.
Reencontrei um velho amigo, após longos anos sem vê-lo. Fiquei feliz em saber que, financeiramente, prosperara. Já não passava pelas dificuldades de outrora. Constatamos algumas mudanças em nossas vidas. Conversa vai, conversa vem, adentramos na política. Foi então que percebi melhor o quanto ele mudara. Como em certa ocasião me dissera meu irmão: “as referências das pessoas mudam quando financeiramente prosperam”, quer dizer, valores, ideologia, ética, etc, vão juntos.
A fala dele foi das mais reacionárias que já vi, causando-me espanto. Dizia ele que “bandido bom é bandido morto e que deve ser enterrado de pé, para não ocupar espaço”. E emendava clichês um após o outro: “os menores da Febem deveriam ser asfixiados em câmaras de gás”; “o governo não deveria dar terra nem casa a ninguém, para não estimular a vagabundagem”. Por mais que eu tentasse apontar as causas de tanta miséria e violência, ele não arredava pé de seus argumentos preconceituosos. Foi um reencontro lastimável. Contraditoriamente afirmou que Fidel Castro é o maior governante da América Latina e que o comunismo é a besta do apocalipse. Que em 1989 ficara indeciso entre votar no Collor ou em Roberto Freire; que a Rússia era o inferno vermelho.
Estrategicamente mudei de assunto e passei a comentar as bobeiras do Cruzeiro e a meteórica ascensão do Galo.
Lair Estanislau Alves.
Em 10 de novembro de 2000